O Futuro na Gestão Artística

10 2016 | 17a edição
Texto/Lei Ka Io

Informação Detalhada sobre Gestão Artística   Tendências da Indústria: Oportunidades de Emprego e Remuneração para Gestão Artística

Uma Introdução ao Ensino de Administração Artística em Macau


Como directoras executivas do Centro de Design de Macau e da Associação de Dança – Ieng Chi, respectivamente, Zoe Sou e Chloe Lao são gestoras artísticas experientes. Apesar da natureza e do posicionamento distintos dos grupos artísticos que gerem, as suas funções partilham alguns aspectos: elas estão lá para pôr em acção o pensamento criativo das empresas.

 

Zoe Sou: Ligando as Várias Partes

 

“De facto, sou só directora no papel”, diz a brincar Zoe Sou, do Centro de Design de Macau. “Na vida real, todos trabalhamos imenso em diferentes aspectos do negócio, já para não dizer que não somos muito bem pagos!”

 

Uma das funções de apoio que o centro de design oferece é o secretariado, uma função que é fornecida pela equipa de Sou. A responsável revela que os designers, apesar de brilhantes no processo criativo, por vezes não são tão bons a falar sobre as suas criações. “Se lhes pedir que escrevam um artigo que apresente aquilo que criaram, muitos deles têm de fazer um grande esforço. Podemos oferecer-lhes uma solução chave-na-mão, proporcionando-lhes o apoio de escrita e edição que necessitam.”

 

Para os designers que pretendam mostrar o seu trabalho em exposições através do centro, Sou ajuda-os a coordenar tais actividades.

 

Por vezes, há imprevistos e Sou tem de tratar pessoalmente das situações. Certa vez, um designer quis expor uma escultura de grande escala de um cavalo no lobby de uma empresa de jogo. No entanto, como a peça da instalação estava coberta de lama e incluía plantas vivas, os visitantes espalhavam lama por todo o lado. Isto deixou a empresa de jogo furiosa, tendo esta exigido a Sou que rectificasse a situação de imediato. Fruto disso, ela chegou ao local com os trabalhadores e limpou o local. “Estava claramente uma bagunça.” Sou sorri, dizendo: “O designer não conseguia conceber que o seu trabalho necessitaria de um tal trabalho de acompanhamento. Por outras palavras, o nosso papel é ajudar a facilitar os projectos deles.”

 

Além disso, Sou tem reuniões regulares com os seus quatro parceiros no Centro de Design de Macau, para discutir as estratégias de desenvolvimento e pôr em prática os conceitos. “Por exemplo, um dos meus patrões pode querer organizar uma actividade para vender ou distribuir bolos lunares, e outro patrão pode conhecer um fornecedor de bolos lunares. A minha função é intermediar a ligação entre as várias partes.”

 

Para Sou, a escassez de pessoal especializado é um obstáculo que tem de ser ultrapassado. “Não só não estamos em condições de contratar alguém, como também temos muito pouco dinheiro para o fazer.” A directora sublinha que, inicialmente, o Centro de Design de Macau devia ser gerido por seis a sete pessoas a tempo inteiro, mas a equipa ficou reduzida a quatro devido a dificuldades financeiras. Com uma equipa reduzida, a carga de trabalho é maior para todos. “Estamos a funcionar de uma forma auto-sustentada, comercial.” Sou afirma: “O meu patrão quer que aceite alguns projectos mais lucrativos, para que tenhamos um bom orçamento para contratar mais pessoal.” Esta pressão financeira no Centro de Design faz com que exista uma rotatividade substancial do pessoal, o que por sua vez inibe novas contratações. Ela explica que os candidatos consideram mais apelativo obter um trabalho mais fácil pelo mesmo salário, dado que as expectativas laborais são muito mais elevadas no Centro de Design.

 

Chloe Lao: Os Gestores Artísticos Precisam de Ser Resilientes

 

A falta de pessoal é um dos vários problemas de recursos que os gestores artísticos enfrentam. Para crescer, um grupo artístico tem de obter financiamento ou recursos. Chloe Lao, directora-geral da Associação de Dança – Ieng Chi, considera que os gestores artísticos devem ter mais cuidado com o planeamento de recursos, tendo presente que os recursos não se limitam ao financiamento: também podem significar locais e patrocínios em géneros.

 

“Os gestores artísticos precisam de ter os seus papéis bem definidos, e perceber que não são só mais um membro da equipa”, afirma Lao. De acordo com a responsável, os gestores artísticos enfrentam diferentes barreiras no seu trabalho diário, e por isso têm de ser criativos a arranjar soluções. “Não se pode apenas executar ou fazer o que foi pedido. No trabalho, adquiri o hábito de pensar em várias opções para qualquer actividade.”

 

Recentemente, a associação de dança teve necessidade de um equipamento caro para uma das suas performances. Para alugar este equipamento para o espectáculo, teriam de gastar cerca de um quinto do orçamento previsto. Como tal, Lao tentou obter um patrocínio de uma grande empresa. “Como esta empresa está habituada a patrocinar eventos de maior dimensão, o nosso até era pequeno para os padrões deles. Ficaram muito surpreendidos por terem sido abordados por mim.” Depois de algum trabalho de persuasão, a associação de dança conseguiu alugar o equipamento a um preço muito mais acessível. “Tendo a procurar empresas que não conheçamos ou que nunca tenham sido contactadas por nós”, diz. “Isto pode tornar o nosso trabalho menos stressante e, por sua vez, os patrocínios podem encorajar um maior apoio para as artes.”

 

Cada grupo artístico tem a sua filosofia específica. O desafio para um gestor artístico está no modo como concretiza em termos reais o pensamento artístico abstracto, e como o promove junto da comunidade. Há quatro anos, a Associação de Dança – Ieng Chi juntou-se à Associação dos Embaixadores do Património de Macau para lançar um projecto chamado Caminho Poético pelos Sítios do Património Mundial. Neste projecto, combinam dança com leitura de poesia, proporcionando uma visita guiada à comunidade. Deste modo, podem promover os vários locais de património cultural de Macau junto da comunidade. Neste projecto, a abordagem artística multidisciplinar realça o significado cultural por detrás destes locais de património. Levando em conta a rota desenhada, Lao falou com responsáveis de cada local de património, pedindo a oferta de empréstimos de curto prazo para o projecto. Entre os locais mais complicados de garantir ficaram as igrejas. “Como sabem, uma igreja é um lugar de paz. Mal o clérgio percebe que queremos encenar um espectáculo de dança ali, o mais certo é rejeitar a nossa proposta.” Lao teve de reiterar o valor do projecto na promoção do património cultural e, claro, tranquilizar os responsáveis em relação à manutenção de níveis de barulho baixos. “O segredo é ver o ponto de vista deles, e apreciar a natureza da associação entre o nosso plano e as necessidades deles.” Não é difícil perceber que são essenciais competências de comunicação para ser um gestor artístico de sucesso.

 

Tendo entrado para a associação de dança em 2012, Lao teve contacto com departamentos governamentais, secções de espectáculos das empresas de jogo e grupos de artes internacionais. Não obstante, decidiu ficar nesta companhia de dança.

 

“As empresas de jogo estão dispostas a pagar um bom salário, mas não é o tipo de trabalho que eu pretendo.” Ela destacou que a ambição artística individual não pode ser concretizada do dia para a noite. Demora alguns anos até se conseguir ver o resultado do trabalho efectuado. Um gestor artístico tem de ser capaz de lidar com as desilusões que vão aparecendo. “O resultado do nosso trabalho nem sempre é tangível, e isto pode criar um sentimento de incerteza em algumas pessoas.” Lao decidiu prosseguir o seu trabalho na associação de dança, de modo a poder contribuir para este sector pelo qual é apaixonada. Além disso, quer experimentar e procurar novas formas de colaboração para apresentar esta arte através de diferentes meios ou formatos artísticos.

 

Lao destaca que o desafio na gestão artística não reside na dificuldade do trabalho ou na pressão, mas em manter o equilíbrio interior. “Para uma pessoa ser realmente boa nesta área, tem de reconhecer que os seus esforços não são equiparáveis à recompensa monetária, e aceitar que, por vezes, o bom trabalho pode não ser valorizado. Nem sempre é fácil fazer com que os amigos ou os pais percebam o trabalho que é feito, mas o mais importante é termos paixão por aquilo que fazemos, e procurarmos sempre ser melhores afazê-lo.”