Os livros ilustrados são para crianças?—Entrevista com a Júbilo 31 Books

04 2019 | 32a edição
Texto/Jasper Hou

É habitual as pessoas associarem os livros ilustrados com livros para crianças. Vêem-nos como livros que são apenas para crianças. Em Macau há uma livraria independente única, que vende acima de tudo livros ilustrados: a Júbilo 31 Books. A proprietária da livraria, Lin Hsiang Chun, por outro lado, acredita que os livros ilustrados são na verdade para adultos. Porque é que Lin tem uma paixão tão grande por livros ilustrados e qual é a história por trás desta livraria independente? O que é que torna a Júbilo 31 tão especial? Vamos mergulhar nas histórias desta livraria.

 

Livros ilustrados também são para adultos

 

Lin é de Taiwan. Depois de acabar a sua pós-graduação em Guangzhou em 2006, decidiu mudar-se para Macau. A cidade tornou-se a sua segunda casa e ela já vive aqui há 13 anos. Em 2015 decidiu deixar a sua carreira de nove anos como professora e abrir a Júbilo 31 Books. “Os livros ilustrados são feitos de imensas memórias de infância. Leitores de todos os tipos podem relacionar-se com as histórias dos livros ilustrados”, diz Lin. “É por isso que eles atraem leitores.”

 

Na perspectiva de Lin, os criadores de livros ilustrados apresentam as suas histórias através de desenhos, o que dá uma sensação mais forte que os textos. Dito isto, os livros ilustrados podem atrair diferentes grupos de leitores porque são relativamente fáceis de entender. “Na verdade há muitas pessoas que pensam através dos livros ilustrados. Muitas pessoas acham os livros ilustrados são apenas para crianças. Não é verdade”, explica. “Os criadores dos livros ilustrados são adultos. Normalmente, estes livros retratam o mundo dos adultos. Em grande medida, os livros ilustrados são para adultos.”

 

Pagar torna os leitores atentos

 

Actualmente, as principais receitas da livraria vêm da venda de livros. Há um bom número de livros ilustrados à venda que são publicados de modo independente. Ainda que não haja imensos tipos de livros ilustrados para os clientes escolherem, as vendas têm sido óptimas. “Os zines são uma representação das publicações independentes na loja. Os livros ilustrados independentes tornaram-se bastante populares recentemente. Julgo que é provavelmente porque a edição independente é mais directa e simples, dando aos criadores mais liberdade para se expressarem”, diz Lin. “Para um autor, essa é uma óptima forma de expressar as suas ideias. Ainda que muitos dos livros ilustrados tenham sido pintados pelos próprios autores e que por isso os números de produção sejam bastante baixos, continuo a pensar que têm um futuro brilhante pela frente.”

 

Além disto, a livraria também atrai o público com a organização de actividades. “Organizamos actividades para interagir com os clientes e atrair uma audiência maior”, explica Lin. “Por exemplo, temos clubes de leitura, debates, sessões de partilha de histórias e lançamentos de livros, entre outros, todos relacionados com livros ilustrados. Também convidamos os autores a falar sobre as ideias das suas histórias e os conceitos dos livros, aproximando-os dos leitores. Os clientes têm de pagar para participar na maior parte dos eventos. Os preços variam entre 200 e 300 patacas. O dinheiro não é só para cobrir os custos operacionais com os recursos humanos e o espaço. Aplicamos uma taxa de participação também na tentativa de fazer com que os participantes estejam mais atentos. É uma maneira de mostrar respeito pelos convidados do eventos. Geralmente, eventos gratuitos não conseguem manter a atenção da audiência.”

 

Livros ilustrados independentes e locais desfrutam de grande popularidade entre os turistas

 

A Júbilo 31 Books reuniu muitos livros ilustrados independentes de autores locais em Macau. “Os livros ilustrados de autores locais atraem principalmente turistas porque estes acreditam que os livros ilustrados são uma representação da cultura local que mostra histórias, ideias e perspectivas locais”, diz Lin. “Comprá-los como lembranças é uma opção interessante. Eles podem olhar mais para Macau através dessas publicações. É por isso que os livros de designers locais são bastante populares.”

 

Na maior parte das vezes trabalhamos com organizações editoriais para trazer os livros até às nossas prateleiras, já que os editores sabem mais do que nós sobre o sector e têm uma visão mais claras sobre o tipo de livros que queremos. É fácil encontrar publicações que se adeqúem ao posicionamento da nossa livraria”, refere Lin, explicando o processo de selecção de livros. “Há um óptimo grupo de organizações editoriais em Macau. Por exemplo, há a Sociedade de Património, a Root e a Cai Fora, entre outras. As suas obras são únicas e apresentam fortes elementos de design urbano e desenvolvimento da cidade. Mas eles não definem limites criativos nos seus trabalhos. Eles são nossos parceiros de longa data.”

 

A publicação livre é geralmente a mais cara

 

Na perspectiva de Lin, a indústria editorial de Macau carece actualmente de uma cadeia industrial que abranja a criação de conteúdo, design, impressão, marketing e promoção. Mas isso também significa que o mercado editorial de Macau ainda tem muito espaço para se desenvolver. “O custo de publicação em Macau é muito elevado devido à falta de agências profissionais de publicação. Os criadores de conteúdo geralmente precisam gastar quantias relativamente altas para procurar agências noutras regiões que possam ajudar no processo de publicação”, diz Lin. “Muitas vezes, o governo dá subsídios para que os criadores de conteúdo publiquem os seus trabalhos. Mas para os criadores de conteúdo, a publicação livre geralmente significa que os seus livros serão muito caros. Quando há um subsídio para publicação, o custo de publicação torna-se incontrolável. E o custo de publicação determinará o preço das obras publicadas. Então, não haverá muitos leitores dispostos a pagar tanto dinheiro por esses livros, o que significa que se torna mais difícil ter lucro. No entanto, a maioria dos livros que recebem subsídios do governo não precisam de qualquer maneira de preocupar-se com as vendas. Então, gradualmente, o mercado não vai realmente olhar para esta questão do ponto de vista comercial. Penso que esta é a questão sobre a qual o mercado editorial de Macau realmente tem de pensar mais.”


Júbilo 31 Books

Rua de São Roque, n.º 31, R/C, Macau

jubilo31books.com