Continuar a explorar, continuar a filmar: entrevista exclusiva com o realizador de publicidade Cheok Lei

02 2020 | 37a edição
Texto/Por Ariel Law

Ele foi o realizador do videoclip do famoso artista de c-pop Hua Yuchen. Ao filmar em Singapura, experienciou o vai e vem entre 80 localizações diferentes em seis dias. Ele também tivera um incrível azar na província de Sichuan, no sudoeste da China, onde esperou pela neve e a luz do sol que nunca chegaram. Houve também um momento em que ele teve que voar para a Turquia no dia seguinte a uma entrevista...


A pessoa de quem estamos a falar aqui é Cheok Lei, realizador de publicidade nascido em Macau que vive actualmente em Xangai. Lei trabalhou com várias marcas famosas como a Adidas. O seu trabalho é sempre agitado e cheio de emoção, e a vida movimentada em Xangai continua a trazer-lhe novas surpresas e incentivá-lo a crescer. Ele tem vindo a pensar noutros projectos recentemente. “Talvez um dia pare de fazer publicidade e comece a fazer arte imersiva.”


Ir para o exterior para crescer


Lei começou a chamar a atenção dos meios de comunicação chineses por volta de 2015. Nessa altura Lei estava a estudar nos Estados Unidos da América, período durante o qual ele alcançou uma série de conquistas notáveis. Os seus trabalhos ganharam o prémio de 3º Prémio para Anúncios na 36ª edição dos College Television Awards (Prémios Emmy); o prémio de Bronze em Los Angeles e o prémio de Prata na Califórnia, na secção para estudantes dos Prémios ADDY. No entanto, Lei admite com franqueza que o seu desempenho académico não era ideal quando em criança estudava em Macau. Lei começou a filmar simplesmente porque a sua escola lhe permitiu gravar um vídeo para compensar o exame de um dos anos. “Fiz os filmes apenas para passar no exame. Não precisava de estar ansioso para filmar, uma vez que que me seriam dados guiões”, diz.


Lei apaixonou-se gradualmente pela arte de filmar. Mas ainda teve frustrações antes de se tornar um realizador premiado. Lei participou num concurso de cinema realizado pelo Centro Cultural de Macau. No entanto, o seu trabalho foi ridicularizado pelo público e isso partiu-lhe o coração. O vídeo era sobre uma história de amor. O protagonista masculino era um amigo de Lei, que é muito gordo e não especialmente bonito. Isto criou um grande contraste, porque de alguma forma a história é sobre uma linda rapariga que se apaixona por um rapaz gordo. “Naquela altura não prestei muita atenção aos detalhes da produção do filme. Mas, depois desse incidente, percebi que ainda tinha muito para aprender”, diz Lei.


Lei começou então a aperfeiçoar-se. Estudou técnicas de filmagem no i-Centre Macau e acumulou experiência ao ajudar cineastas veteranos locais. Chegou a trabalhar para a série de filmes Histórias de Macau. Além disso, tem participado em competições e ganho vários prémios. Quando estava a fazer um curso avançado em Taiwan, uma co-produção sua e dos seus colegas de turma ganhou os Fubon Young Voice Awards, o que foi um grande encorajamento para Lei.


Mesmo já tendo conseguido algumas conquistas, Lei não é ainda assim complacente e espera aprender mais. Acabou por matricular-se no prestigiado ArtCentre College of Design da Califórnia, com apoio financeiro do Instituto Cultural de Macau. Ele descreve aquele centro de artes como uma escola de pragmatismo, com objectivo fazer com que os alunos metam as mãos na massa. Durante os seus estudos, deu também assistência a pequenas marcas na produção de filmes promocionais, para poder fazer algum dinheiro extra e obter mais experiência. Além disso, a rede de ex-alunos da escola deu-lhe a oportunidade de se envolver na produção de vários videoclipes. Em 2013, Lei ganhou um prémio num concurso de videoclipes para a canção BomBom, dos cantores americanos de hip-hop Macklemore e Ryan Lewis.


Procurar a sorte nas metrópoles


Depois de se formar, Lei trabalhou nos EUA durante dois anos antes de regressar a casa. “Fui para Pequim e Xangai. E encontrei muitas pessoas que fazem filmes no interior da China, através de muitas plataformas online como o Vimeo, e tentei entrar em contacto com eles. Finalmente, uma agência criativa em Xangai fez-me uma oferta de trabalho a tempo inteiro. Xangai tornou-se a minha segunda casa”, diz Lei.


Agora, Lei vive como uma espécie de “nómada de Xangai” e trabalha como freelancer. Muitas pessoas pensam que os rendimentos da produção de filmes são instáveis. Mas Lei discorda. “Xangai tem um grande mercado com inúmeras oportunidades, mas isso também significa que há uma concorrência feroz”, refere. Ao falar da chave para o seu sucesso, Lei acredita que construir um relacionamento com os clientes é a maneira mais importante de obter oportunidades. “Por exemplo, a empresa com a qual trabalhei para filmar o videoclipe de Hua Yuchen também me proporcionou a oportunidade de filmar na Turquia no dia seguinte. Acredito que o meu estilo de trabalho seja valorizado pelos meus clientes. Desde que eu prometa algo, tentarei fazer o meu melhor com 100% de esforço, independentemente do orçamento”, afirma Lei.


Até agora, Lei construiu uma boa reputação e desfruta de um rendimento estável. Mas ele ainda está a explorar o sector. Lei expressou o seu interesse em combinar vários elementos nos seus filmes, como tecnologia e artes, para criar obras interactivas. “Por exemplo, agora temos tecnologia de realidade virtual. Já experimentei e foi uma experiência muito imersiva”, explica Lei. “O mundo está a evoluir rapidamente. Agora, a tecnologia 5G está em ascensão e espera-se que o 10G esteja desenvolvido até 2040. A velocidade do desenvolvimento tecnológico é inimaginável. Mas, enquanto utilizador, tenho uma grande expectativa em relação à inovação tecnológica. E conclui: “Vou continuar a aprender. É uma boa oportunidade para aprender coisas novas e explorar novas áreas. Talvez um dia pare de fazer anúncios e videoclipes para começar a fazer arte imersiva!”


Parte dos trabalhos de Cheok Lei: www.xinpianchang.com/u10252810