O-Moon: O Sangue Novo de Macau em Design de Acessórios

02 2017 | 19a edição
Texto/Lei Ka Io

Enquanto destino turístico, Macau não tem falta de lojas de acessórios. As lojas próximas de qualquer atracção de Macau vendem vários tipos de lembranças, como postais, porta-chaves e decorações alusivas às Ruínas de São Paulo. No início de Novembro de 2016, uma nova loja de acessórios abriu e entrou nesse mercado competitivo. Os seus fundadores, depois de efectuarem um estudo de mercado em Macau, estão confiantes no futuro do seu negócio. “As tradicionais lojas de acessórios de Macau nunca pensam em mudar”, diz Ng Kam Seng, um dos fundadores da O-Moon. “Ainda vendem os mesmos produtos que vendiam há dez anos.” Tendo detectado essa lacuna no mercado, Ng, Jet Wu e Xenia Wong investiram no negócio, com o objectivo de criar uma marca que seja reconhecida tanto entre visitantes como pelos locais.


A loja localiza-se na Rua Cinco de Outubro e chama-se O-Moon, que se pronuncia de forma similar a Ou Mun (o nome de Macau em cantonês). Se olharmos para a loja a partir da rua, somos atraídos pelas cores dos azulejos portugueses pintados e pelo azul e branco dos mosaicos chineses que decoram a loja. A parede próxima da montra da loja está revestida com papel de parede branco com ilustrações pintadas a azul. Numa alusão ao nome da loja, um balão pintado com uma lua está pendurado no tecto. Quem olhar mais de perto, verá uma ilustração das Ruínas de São Paulo na lua.


Os fundadores da O-Moon têm diferentes percursos profissionais. Ng era um empresário e tem a seu cargo a administração e funcionamento da loja. Wu é um ilustrador profissional. Ele concebe e desenha todos os produtos. Wong tem a sua própria loja de acessórios onde vende produtos de cabedal feitos à mão. “Pensamos que os pontos de vista de um empresário, de um designer e de uma mulher podem ajudar a equilibrar o nosso negócio”, afirma Wong. “Fazemos design cultural em Macau com os nossos corações.”


O ponto forte da O-Moon é destacar a cultura de Macau. Todavia, com tantos produtos similares disponíveis no mercado, como podem os produtos desta marca sobressair? “Evitar fazer o que outros têm feito. Fazer o que outros não fazem” – esta tornou-se a estratégia da O-Moon. Produtos pintados à mão são o seu trunfo. Os produtos da O-Moon também têm imagens de pontos de referência de Macau, como as Ruínas de São Paulo, o Templo de A-Má e a Ponte de Sai Van. Mas quando Wu concebe as imagens, ele começa por fazer um esboço e separa a composição da imagem pedaço a pedaço. Depois, desenha as imagens em papel e digitaliza-as para o computador. Finalmente, faz ajustes e emparelhamentos. “Poderia usar software para desenhar, mas prefiro fazer linhas curvas porque quero destacar que as peças são pintadas à mão.”


Por vezes, imagens bonitas não bastam para atrair os clientes. É mais importante o produto ser útil. “Imagine que tem dois objectos. Um é bonito, outro é bonito e útil. Qual deles escolheria?”, pergunta Wu. Como tal, a O-Moon lançou produtos como guarda-chuvas, carregadores portáteis e almofadas que se podem transformar em cobertores, além de lembranças como postais e porta-chaves. Certa vez, um cliente queixou-se de um copo cujo corpo de cerâmica era demasiado fino, o que fazia com que a pessoa escaldasse as mãos. A O-Moon reviu imediatamente o design, usando um corpo de cerâmica mais grosso e adicionou uma pega à caneca. Deste modo, segundo Ng, os produtos da loja não são desenhados apenas para os 30 milhões de visitantes mas também para os locais.


Ng acrescentou que 30 por cento dos clientes da O-Moon são habitantes locais e 70 por cento são visitantes. Entre os visitantes, metade são de Hong Kong e a outra metade do interior da China, de Taiwan, da Coreia do Sul, do Japão, etc. A Rua Cinco de Outubro não é a zona mais visitada por turistas, pelo que as rendas não são elevadas, como nas áreas dos casinos e na zona envolvente das Ruínas de São Paulo, onde as rendas mensais podem ascender a 200.000 patacas. Além do mercado B2C (da empresa vendedora para o consumidor final, a O-Moon também já entrou no mercado B2B (transacções entre duas empresas) e vende produtos a várias associações e departamentos governamentais.


Uma loja de acessórios também tem de vender produtos normais como porta-chaves. Segundo Wu, tais produtos são os favoritos dos visitantes e geram um bom volume de vendas. O intervalo de retorno é curto e estes produtos contribuem fortemente para pagar a renda. Macau é quase inseparável do jogo, pelo que é necessário ter um produto que mostre este elemento. No entanto, visitantes do interior da China terão problemas em passar na alfândega se comprarem tais produtos. Isto explica o motivo pelo qual tão poucas pessoas têm interesse em produtos que tenham o casino por temática.


A O-Moon tem vários produtos disponíveis. Não só vendem produtos desenhados pela própria empresa, como também colaboram com padarias, fotógrafos, designers de acessórios, etc. Contudo, Wu acredita que devia haver mais objectos ao dispor na loja. “Quanto maior a oferta, maior o período de tempo que o cliente passa na loja, e maior a facilidade com que os produtos são vendidos.” O investimento da O-Moon na renovação da loja e do design dos produtos atingiu quase um milhão de patacas. Apesar do enorme risco, Wu está muito confiante no negócio e no mercado. Por enquanto, a pressão do negócio ainda é suportável. “Sem investimento não há retorno.”


“Não concebemos produtos únicos. Aplicamos o nosso design a produtos que já estão disponíveis no mercado”, refere Wu. “As tendências estão em constante mudança, pelo que os nossos designs têm de acompanhá-las.”


Não há muitos ícones culturais reconhecíveis em Macau e um dia estes estarão esgotados. A O-Moon olha para o futuro e está agora a desenhar uma nova personagem de banda desenhada como investimento de longo prazo. Actualmente, o design de um conjunto de mascotes animais, Black Bear BOBO, está quase concluído e prestes a ser lançado através de uma aplicação para telemóvel. O plano de Wu é lançar uma série de animação e banda desenhada com um tema humorístico BOBO. Depois de atrair internautas suficientes e obter uma certa popularidade, serão lançados produtos relacionados para assegurar receitas. Ele já testou o mercado através da gestão de uma página de Facebook chamada “The Art of Macau” com outro artista. Fizeram pequenos filmes de animação e lançaram-nos aí. Entre eles, houve um que gozava com os solteiros no Dia dos Namorados e que se tornou viral, com um total de 350 mil acessos.


A O-Moon não tem apenas um grande plano. Acompanhando as tendências, Wu está a ponderar adquirir uma impressora 3D para poder disponibilizar de imediato objectos personalizados.


Com os olhos postos no future, Wong espera que a O-Moon acabe por tornar-se numa marca icónica de Macau. “Espero que os visitantes de Macau não pensem em comprar apenas bolos de amêndoa. Espero que também pensem um pouco na nossa lua.”