Um Novo Marco para Macau – Grande Abertura da Cinemateca · Paixão

04 2017 | 20a edição
Texto/Jason Leong

Em que pensa quando falamos de cinema? Superhero? Stephen Chow? Ou nos Óscares? Existem diferentes tipos de público e de géneros cinematográficos. Entre os diferentes géneros, os filmes independentes são realmente populares noutras partes do mundo e atraem uma vasta audiência. Agora é possível ver esses filmes em Macau. Inaugurada no final de Março, a Cinemateca•Paixão apresenta filmes não comerciais. É um espaço que permite ao público de Macau ter um vislumbre das obras que estão a ser exibidas um pouco por todo o mundo.


Localizada na Travessa da Paixão, mesmo ao lado das Ruínas de São Paulo, a Cinemateca•Paixão está alojada num edifício colonial de estilo português, que de alguma forma combina com o exotismo dos filmes que ali serão apresentados. Depois de algum tempo de selecção, a CUT Lda. (CUT) ganhou finalmente o concurso público para gerir o local, tendo ocupado o espaço em Janeiro. A cinemateca foi oficialmente inaugurada no final de Março. Convidámos Albert Chu Iao Ian e Rita Wong Yeuk Ying, respectivamente Director Artístico e Directora de Operações da CUT, para falarem sobre a sua visão e missão com vista ao funcionamento da cinemateca. Ambos, juntamente com a CUT, foram bastante aclamados por terem tornado notável a cerimónia de abertura do local.


“Na cerimónia de abertura, projectámos um pequeno filme assinado pelos realizadores de Macau Chao Koi Wang, Tracy Choi Ian Sin e António Caetano Faria. A obra aborda a relação dos filmes de Macau com esta cinemateca, bem como a sua paixão pelo lugar. Espero que todos tenham gostado e espero também que mais pessoas valorizem a produção local”. Como Rita Wong esperava, os convidados e o público deram um feedback positivo sobre o filme. Quando a cerimónia de abertura terminou, o público começou a discutir a arte de fazer cinema. Foi uma noite maravilhosa de partilha entre cineastas e espectadores. “Nós gerimos a cinemateca porque queremos ter uma plataforma para trocar ideias e estabelecer pontes entre pessoas com interesses comuns. Acreditamos que isso é fundamental para construir uma comunidade com cultura cinematográfica”, diz Albert Chu.


Talvez seja fácil organizar uma ou duas sessões, mas é preciso esforço para construir gradualmente uma cultura cinematográfica. “Fizemos várias vezes exibições itinerantes de filmes. As respostas foram positivas e conquistámos muito público. O problema é a continuidade. Agora temos um local fixo. Podemos realizar actividades temáticas a cada mês ou a cada temporada. Isso é essencial para formar os cinéfilos locais. Bons filmes não podem sobreviver sem boas audiências”, acrescenta.


Rita Wong refere que a cinemateca vai lançar uma série de programas de formação cinematográfica, como workshops de crítica e seminários sobre produção. Serão convidados realizadores proeminentes para falar sobre cinema. Quanto mais pessoas essas actividades cativarem, mais provável é que se estejam a formar cinéfilos.


Alguns podem estar interessados em aprofundar a área da realização cinematográfica. É através da formação contínua que Macau pode cultivar talentos em número suficiente para apoiar a indústria do cinema.


Os filmes são, naturalmente, o núcleo da cinemateca. Wong diz que há planos para introduzir, em Macau, filmes independentes provenientes da Europa, das Américas e do Sudeste Asiático. São aqueles filmes com ideias novas ou de excelente qualidade mas que não são exibidos nas salas comerciais. O objectivo é expandir o conhecimento das pessoas sobre cinema além dos blockbusters e dos vencedores dos Óscares, e fazer com que saibam que há muito mais filmes no mundo e a contar histórias diferentes. Chu também assinala que estão previstas diversas exibições temáticas. Por exemplo, se o tema é o feminismo, serão seleccionados e exibidos filmes em que as mulheres sejam o tema principal. Curadores de diferentes origens serão convidados a seleccionar filmes e a partilhar, com o público de Macau, a sua visão única sobre o cinema.


“Por último, mas não menos importante, esperamos que a cinemateca possa servir de incubadora à cultura cinematográfica de Macau e apoiar o crescimento da indústria cinematográfica local”, declara Chu. Além de gerir a cinemateca, a CUT promove, há anos, o desenvolvimento da televisão e da indústria cinematográfica locais. Fundada em 1999 e originalmente denominada Associação Audio-Visual CUT, esta entidade tem operado sem fins lucrativos no âmbito da exibição de filmes e da promoção do debate sobre o cinema enquanto arte. Uma série de cineastas de Macau passaram pela CUT. A trilogia Macau Stories, filmada em 2008, foi uma das produções iniciadas pela CUT. Noventa por cento dos membros da equipa de filmagens são talentos cinematográficos de Macau. Esta série tornou possível a exibição de filmes locais em salas comerciais.


Acredita-se que a Cinemateca•Paixão, um novo marco cinematográfico em Macau, será capaz de alimentar bons públicos e talentos cinematográficos locais com vista ao crescimento das indústrias de televisão e cinema de Macau.