As minorias sexuais nas artes criativas

12 2015 | 12a edição
Texto/Ng Kin Ling

As personagens da série de televisão de comédia norte-americana How I met your mother, transmitida pelo nono ano consecutivo, são muito queridas entre o público televisivo. Mas aquele que realmente se destaca é Barney, o playboy. Sempre impecavelmente vestido e a namoriscar várias mulheres, Barney anda à procura de relações casuais e raramente lembra-se dos nomes das mulheres com quem dorme. Neil Patrick Harris deu realmente vida a esta personagem, tornando aquela que inicialmente era uma personagem secundária numa figura muito mais fascinante do que o próprio actor principal da comédia. Foi sem quaisquer surpresas que o papel lhe conferiu uma enorme popularidade e vários prémios de televisão como melhor actor de comédia.


Na realidade, este homem sedutor que aparece no ecrã televisivo é homossexual e tem uma relação com o mesmo parceiro há 11 anos. Há cinco anos, foi pai de um par de gémeos através de inseminação artificial. Tem uma família que parece perfeita e invejável. Barney é heterossexual e tem casos de amor complicados. Mas Neil é o fiel amante gay.


No entanto, o que a história de Neil nos conta é a forma como o sector de televisão mainstream nos Estados Unidos tem ignorado o mercado das minorias sexuais. De acordo com um inquérito realizado pela Universidade do Sul da Califórnia, das cerca de 4.600 personagens que entraram em 100 sucessos de audiência de 2014, apenas 19 eram personagens homossexuais ou bissexuais. Além disso, a minoria sexual que aparecia representada nos filmes era maioritariamente composta por homossexuais brancos. Não há um único travesti.


Apesar do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos ser legal, a forma como esta situação está reflectida é seguramente irrealista. Existem muitos realizadores e actores talentosos em Hollywood com orientação sexual homossexual, como é o caso de Lee Daniels, Jodie Foster e Matthew Bomer. Esses mercados e pessoas existem, mas não têm aparecido produtos que os representem.


No livro NICHE: The Missing Middle and Why Business Needs to Specialise to Survive pode ler-se que muitas empresas globais têm como objectivo maximizar os seus clientes, mas na realidade isto leva a uma sobreposição de produtos e estratégias de marketing, fazendo com que seja mais difícil para uma marca ou produto destacar-se, e fazendo com que a substituição do mercado seja mais provável. Por outro lado, caso se possa definir melhor o público-alvo, e se os produtos forem direccionados mais especificamente para os mercados minoritários, então poderão surgir muitas oportunidades de negócio no sector.


Em comparação com os homólogos americanos, os britânicos estão mais empenhados neste campo. Já no seu 29.º aniversário, o festival de cinema LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero) do Instituto de Cinema Britânico, que se realiza em Londres e tem uma duração de 11 dias, atraiu mais de 23.500 pessoas no encerramento do festival—um máximo histórico, com uma subida de 6,8 por cento de público em relação à inauguração. Além disso, o British Council ofereceu nos últimos tempos apoio ao festival, atraindo a participação de mais de 120 profissionais de cinema e colocando esta minoria no centro das atenções.


Não é apenas a indústria cinematográfica que tem os olhos postos neste mercado. Na realidade, na China, onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo não está legalizado, este mercado também está a ganhar atenção.


A Time Out Shanghai publicou em Julho deste ano uma reportagem sobre este mercado minoritário que tem sido ignorado até agora. No estudo, um consultor do mercado de luxo apontou que, supondo que existe uma minoria sexual na China de 3 a 5 por cento, isto já significaria uma população de 40 a 70 milhões de pessoas. Além disso, estas pessoas tendem a ter um bom poder de compra e a trabalhar nas indústrias criativas que determinam novas tendências, tais como a moda, design e publicidade.


Até o Taobao.com lançou em Fevereiro o “Nós fazemos”, um website dedicado ao tema, com o slogan “Paixão arco-íris, amor ilimitado: Se está à procura de um amor verdadeiro, o Taobao pode ajudar a concretizar o seu sonho”. Os vencedores do concurso vão receber um pacote de bilhetes de avião para viajar até aos Estados Unidos para um casamento e uma lua-de-mel. Até ao momento, esta foi a maior campanha de marketing na China direccionada ao mercado nacional das minorias sexuais.


Como tal, a ousadia de explorar o mercado das minorias sexuais pode mesmo ajudar a contribuir para o sucesso do negócio no sector das artes criativas.