A moda francesa no cinema: não se esqueça da sua paixão

06 2015 | 6a edição
Texto/Ng Kin Ling

A octogenária Helena Law Lan, símbolo do cinema de Hong Kong, apareceu recentemente na campanha Pop Up Your Lips da Yves Saint Laurent Beauté, em Hong Kong. Com o seu icónico cabelo em tons prateados, um par de óculos pretos de massa e a segurar graciosamente um batom da YSL, as fotografias de Law tornaram-se virais num ápice e muito elogiadas.


A YSL nunca pára de nos surpreender. Yves Saint Laurent, fundador da luxuosa marca de moda, morreu há sete anos mas continua entre nós no grande ecrã. O documentário de Pierre Thoretton L’Amour Fou (2010) conta a relação de meio século entre Yves Saint Laurent e o seu parceiro de toda a vida, Pierre Bergé. Dois filmes biográficos sobre Yves Saint Laurent estrearam no ano passado. Realizado por Jalil Lespert, Yves Saint Laurent chegou ao grande ecrã no início de 2014 e, mais tarde, Saint Laurent, uma obra de Bertrand Bonello, estreou no Festival de Cannes.


Este artigo não é uma crítica de cinema nem um blogue de moda. Estamos apenas curiosos com o perpétuo impacto de Yves Saint Laurent na criação artística. Ele não foi apenas um ícone da moda – mesmo depois de morrer, Yves Saint Laurent transformou-se num tema fascinante para a indústria cinematográfica. Nas palavras de Pierre Bergé: “A moda não é arte, mas precisa de artistas. Yves Saint Laurent é esse grande artista”.


Alta-costura glamorosa e actores e actrizes atraentes são essenciais para filmes sobre moda. Porém, uma boa história é o element chave. Estilistas que olham para o design de moda meramente como um negócio só podem falar de como ganhar e perder dinheiro; os artistas, por outro lado, podem mostrar-nos como transferem a paixão para o seu trabalho. Saint Laurent era destemido como um homem e provocante como uma mulher. O seu fato Le Smoking que veio definir tendências, os power suits e a roupa de caça para mulheres foram revolucionários e fonte de inspiração para cineastas.


Os filmes sobre Saint Laurent não marcam certamente a primeira ligação entre a moda e outras formas de arte. O filme de Frédéric Tcheng Dior e eu, de 2015, é outro bom exemplo. Conta a história de como Raf Simons, que se tornou conhecido pelas suas linhas de roupa para homens, lança a sua primeira colecção feminina e lidera os serviços exclusivos de vestuário feito à medida, após assumir a posição de director criativo da Christian Dior. Por trás deste intenso enredo, o filme retrata na sua essência a infinita paixão de um estilista.


Um estilista respeitado não trabalha apenas em prol do lucro, mas da criatividade. Agnès Troublé, fundadora da marca francesa agnès b. e mestre da moda minimalista, é fanática por filmes policiais. O seu extenso envolvimento na indústria cinematográfica inclui papéis como dupla de outras actrizes, patrocinadora de alguns dos principais festivais de cinema, produtora de dezenas de obras e entusiasta promotora do cinema—nas suas lojas encontram-se pendurados posters de cinema. Troublé também realizou em 2014 o seu primeiro filme, My Name is Hmmm…, que teve uma cerimónia de estreia com fins caritativos, co-organizada pelo festival de cinema Golden Horse, de Taipé.


As pessoas que se juntam às indústrias culturais e criativas não são apenas movidos pelo lucro, mas pela sua paixão. O entusiasmo gera criatividade, o espírito do fundador é sempre a identidade de uma marca. Infelizmente, algumas pessoas estão permanentemente a confundir os meios com os fins e tentam quantificar o sucesso de uma marca cultural e criativa pelos lucros alcançados. Do nosso ponto de vista, esta é uma opinião amadora e absurda.