Yi-Hsin Lin

Formado na Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidade de Londres. Vive e trabalha actualmente em Londres como escritor. Lin fez curadoria de pintura para o Museu Vitória e Alberto, bem como para o Museu Britânico. É também professor de Arte Chinesa na Christie’s Education e colabora com várias revistas de arte em língua chinesa.


Partir ou Permanecer

15a edição | 06 2016

03_林逸欣_01.jpg


A 23 de Junho, o Governo britânico deve levar a cabo o referendo que decidirá se o Reino Unido permanecerá ou não na União Europeia (UE). Sendo certo que o Governo está ainda bastante inclinado para a permanência na UE, os recentes episódios que afectaram a Europa, como a crise dos refugiados e os ataques terroristas, geraram um sentimento de incerteza no Reino Unido, levando alguns cidadãos britânicos a duvidar da necessidade de atravessarem o Canal da Mancha e de estarem envolvido nas políticas da UE. Na verdade, a relação entre o Reino Unido e os estados da UE foi sempre complicada e não é de fácil reconciliação, se analisada de uma perspectiva política, económica e social. Podemos, no entanto, a partir das actividades e declarações de associações artísticas do Reino Unido, perceber os laços inseparáveis entre as duas regiões, pelo menos a curto prazo.


V&A: Lançamento do European Hall


Uma das principais organizações de arte em Londres, o European Hall no Victorian and Albert Museum, levantou um debate aceso desde a sua abertura no final do ano passado. Tendo levado vários anos para estar finalizado e absorvendo recursos consideráveis, o centro compõe-se de mais de 1,100 peças artísticas e de design, e antiguidades que vão do ano 1600 a 1815, desde cerâmica, vidro, mobiliário, metais, desenhos, esculturas e livros. Não só oferece um olhar sobre a vida da realeza e da aristocracia na Europa durante aquele tempo, como também revela as vidas das pessoas comuns. No lugar de narrar a história da Europa de acordo com localizações geográficas ou períodos históricos, todo o centro segue uma narrativa temática. Por exemplo, a primeira sala de exposições sugere uma inter-relação entre extravagância e poder. Outros temas incluem a urbanização e o comércio, as pedras preciosas e os tesouros, a ascensão de França e a relação entre a Europa e o mundo.


Não muito depois da abertura deste novo centro, a equipa do museu organizou um fórum e mesa-redonda internacional com directores de museus do Reino Unido e da Europa a discutirem e debaterem o tema “A Crise como Oportunidade?”. Cada director purported a sua visão sobre a gestão museológica, enquanto a audiência estava bastante interessada em fazer perguntas bem como em elaborar as suas próprias perspectivas. Seja como for, o consenso foi de que, apesar das diferenças na gestão política em diferentes países, há vários factores comuns partilhados em termos de experiência acumulada e de movimentos culturais. Através da instalação deste novo centro de exposições, espera-se que a comunidade possa perceber melhor o passado histórico e a composição social dos vários estados europeus, bem como as interconexões entre a Grã-Bretanha e esses estados, através de manifestações artísticas e culturais. Para perceber o presente e contemplar o futuro, é primeiro preciso recuperar o passado. Talvez a crise que estamos a enfrentar actualmente possa tornar-se num momento crítico que transforme o futuro.


Um Apelo à Acção por parte do Sector dos Museus de Arte


No final do último mês de Fevereiro, Alistair Brown, membro do comité de políticas da Associação de Museus do Reino Unido, disse que se a Grã-Bretanha deixasse a União Europeia tal seria a todos os níveis e escalas um tremendo golpe para a pesquisa académica, programação de exposições e acesso a recursos de financiamento para galerias e museus. Isto teria sem dúvida um impacto no sector museológico do Reino Unido, dado que este já sofre neste momento de falta de recursos. No que toca à sua operacionalidade, as organizações artísticas do Reino Unido recebem fundos consideráveis de organizações da UE. Se a relação com a UE for terminada, será a situação financeira do Reino Unido auto-sustentável? Em termos de pensamento cultural, como devem as organizações artísticas articular as trocas culturais entre passado, presente e futuro, depois de uma possível saída do Reino Unido da UE? Estas questões desafiantes que aparecerão com uma suposta saída da UE devem ser debatidas e levadas seriamente em consideração.


Simon Brown, que trabalha no Nottingham City Museums and Galleries, considera que a comunidade do Reino Unido deveria mostrar ao mundo a sua visão global e a sua receptividade através do voto para permanecer na UE, em vez de se apresentar como tendo vistas curtas e pouca abertura de pensamento. Além disso, Brown insta também os seus pares no sector a agir e a enfatizar a influência de todo o sector de museus de arte na ligação da Grã-Bretanha à UE. É sabido que o People’s History Museum, em Manchester, planeia apresentar uma exposição sobre este tema durante o período do referendo, como resposta ao processo e ao que pode vir a resultar do referendo. Qual será a relação entre a Grã-Bretanha e a UE? O júri ainda tem de decidir sobre esta questão.