A 30 de Janeiro de 2016, teve lugar na Cinemateca．Paixão uma conversa sobre “Filme X Crítica X Audiência: As Relações Triangulares de um Filme”. A crítica de cinema de Hong Kong Joyce Yang foi convidada para moderar a conversa. Tive a sorte de poder participar nesta iniciativa e aprendi bastante com a mesma. Isto também me permitiu pensar novamente acerca da razão de ser da crítica de cinema. E espero que mais pessoas em Macau possam participar nesta discussão.

Em geral, tanto os filmes comerciais como os de ensaio são vistos como produtos cinematográficos e estão intimamente relacionados com os estudos fílmicos e com a crítica de cinema (como se indica no diagrama abaixo). O que a maior parte das pessoas costuma ver são filmes comerciais, críticas de cinema e cerimónias de entregas de prémios. As críticas de cinema têm uma grande influência junto do público em geral e da cultura pop. Os críticos de cinema costumam usar os estudos fílmicos para interpretar as obras. Mesmo que a influência seja subtil, cada crítico é, de algum modo, discípulo de determinadas teorias.

“Crítica de cinema” é um termo muito genérico que pode, na realidade, ser dividido em quatro categorias:

Relatório de exibição: é similar ao trabalho de casa feito pelos estudantes do ensino secundário ou superior. Nele se discute o tema e o formato de um filme, e por norma evitam-se quaisquer comentários subjectivos ou pessoais.

Crítica de cinema: a forma mais popular de artigo, cujo texto é publicado em jornais ou em guias de cinema. Normalmente, quem o escreve parte do princípio de que o leitor ainda não viu o filme e, como tal, o artigo revela parte do enredo e do background do filme.

Artigo teórico: é uma espécie de dissertação académica e pode até ser publicado sob a forma de livro. O ensaio contém discussões aprofundadas sobre um único filme, ou uma série de textos sobre filmes e a relação destes com o meio sócio-cultural, a política, a economia, a filosofia ou a indústria do cinema. Por norma, o autor parte do princípio de que o leitor possui um conhecimento razoável sobre géneros cinematográficos, história, filosofia e indústria do cinema.

Ensaio crítico: é um ensaio longo sobre um único filme, e está algures entre a crítica de cinema e o artigo teórico. Quem o escreve presume que o leitor está muito familiarizado com o filme. Num tal ensaio, o enredo do filme não é descrito em pormenor. Ao invés, são focadas determinadas cenas do filme e pormenores como a iluminação, a forma como foi filmado, as nuances da representação de um actor, as técnicas de realização e as marcas do trabalho do realizador. Por vezes, o ensaio compara dois ou mais textos sobre o filme.

A maior parte das pessoas poderá encarar uma crítica de cinema como a mera avaliação de um filme. Todavia, a crítica de cinema tem uma função interpretativa. A avaliação envolve o estilo e a preferência do indivíduo, mas a interpretação visa descobrir o significado de uma película. Algumas análises/interpretações revelam, por vezes, a opinião de quem escreve. Podem ser encaradas como trabalho literário independente do filme ou da crítica de cinema.

As críticas de cinema são muito importantes para um país ou para uma região, pois possuem um forte impacto sobre os valores estéticos de um filme e o ethos de uma sociedade. Elas consolidam concepções de cultura e de história. São igualmente úteis aos realizadores, permitindo-lhes ter referências durante a fase da concepção, bem como acumular ideias e melhorar as suas capacidades estéticas. E, no final, um filme ou o seu realizador conseguem conquistar o seu lugar na história.