Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Design mexicano

27a edição | 06 2018

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Prestamos especial atenção ao design quando viajamos. Lojas ou belos exemplos de arquitectura atraem-nos e fazem-nos dar mais uma olhada. Gradualmente vamo-nos apercebendo de que este mundo não precisa de tanto design que pretenda ser magnificente e estimular o consumo. Se o design não melhorar as nossas vidas, então muitas cadeiras e canecas são um desperdício de recursos e na verdade acabam por transformar os designers em fazedores de “produtos desejados”. 


É por isso que prefiro prestar mais atenção ao design do dia-a-dia, como por exemplo ao mobiliário utilizado nos espaços públicos das cidades, aos sinais do metro, etc. Estes designs podem interagir com o público e ser utilizados. Na verdade, bom design pode melhorar a qualidade de vida dos habitantes de uma cidade. Design público com graça pode não só ser aceite e usado pelo público, como deixar uma forte impressão nos visitantes. 


Mérida, capital da Península de Yucatán no México, é uma pequena cidade com grande influência espanhola. Tem praças enormes e belos edifícios de arquitectura colonial. Os pequenos jardins no meio das praças são bons lugares para os locais relaxarem. Há actuações regulares de artistas de rua e e vendedores ambulantes com diferentes tipos de snacks e brinquedos. A Praça da Independência, localizada no centro da cidade, é a mais bela de Merida. Está rodeada de velhas casas históricas e igrejas. No dia em que visitei Merida, decorria um Festival de Luzes. Belas luzes e padrões fundiam- -se numa velha parede, como se contassem a longa história da cidade. Mas o que chamou a minha atenção foi o design das cadeiras para uso público. Estas cadeiras brancas tinham nomes poéticos e é como se fossem animais de estimação dos locais. Os seus nomes são “sillas tu y yo”, o que significa “cadeiras eu e tu”. As pessoas podem sentar-se nas cadeiras frente a frente. Os apoios de braço das cadeiras estão combinados, permitindo um contacto mais íntimo entre as pessoas. Por isso, são populares entre os casais. Foram postas ali por alguém que tomou uma decisão acertada e acabaram por transformar-se num símbolo da cidade. Estas cadeiras foram também ampliadas em forma de escultura e reduzidas para serem vendidas como pequenas lembranças. Os viajantes podem tirar fotografias com elas ou levá- -las para casa. Se uma cidade desejar promover o amor e a fertilidade, pode considerar uma proposta de design deste género. 


Na verdade, este tipo de design ligado ao estilo de vida releva o gosto dos locais, a sua cultura histórica, etc. E, para poder experimentar o modo como os locais vivem, não podem faltar os transportes públicos. 


Porque é que Tóquio pôde tornar-se uma cidade de primeira linha? Se apanhar o metro à hora de ponta, encontrará a resposta. Ainda que haja enormes multidões, continuam a estar organizadas. Os espaços podem ser efectivamente evacuados e as pessoas separadas. Além da característica de bom comportamento intrínseca aos japoneses, o design deve ser levado em conta, como por exemplo a clareza dos sinais utilizados. O tipo de letra, espaçamento, cor e tamanho tiveram de ser considerados. Nas plataformas há uma imagem curiosa de um comboio, que indica claramente que carruagens ficam mais próximas de uma estação para mudança de linha ou das escadas de saída. Aqueles que estiverem com pressa saberão que carruagem escolher. 


Mais tarde viajei para a Cidade do México e apercebi-me de que a cidade tinha sido seleccionada como cidade do design este ano. Esta grande urbe das Américas vai ser palco de várias actividades e escolheu cor-de-rosa como a sua cor. Até os táxis são cor-de-rosa, bem como os caixotes do lixo e os uniformes dos varredores de rua. Sem dúvida que isto faz com que se tenha mais facilmente uma impressão distintiva da cidade. 


Em anos recentes, a economia do México tem-se desenvolvido rapidamente. Por isso, a cidade está repleta de edifícios belos e modernos, entre os quais o Museo Soumaya é o que atraia mais atenções. Tem uma forma estranha, como se fosse a nave espacial de um extraterrestre. Esta peça de arquitectura tem mais de 16 mil folhas de alumínio, que brilham sob o sol. Na verdade, o México tem uma longa história de tradição em design. A Universidade Nacional Autónoma de México, construída nos anos 1950, foi listada pela UNESCO como património mundial. Embora o seu estilo arquitectónico seja moderno, ela mostra a consciência cultural do México através dos detalhes. 


A Cidade do México é enorme com 20 milhões de habitantes. Quando alguém a visita, só usando o metro pode evitar o trânsito. O bilhete de metro talvez seja o mais barato do mundo. Não importa qual a distância que se percorre, custa apenas cerca de duas patacas. Descobri que o traçado das linhas de metro visível nas carruagens é diferente do de outras cidades: o nome das zonas está combinado com o das principais atracções de cada lugar. Para os viajantes, pode ser uma forma mais directa de comunicar. São a criatividade e a coragem que fazem a diferença.