SiSi Chang

Escritora freelancer. Mestre em Artes pela Universidade Nacional de Arte de Taipé, Instituto Superior de Estudos Teatrais. Chang olha para a viagem como uma disciplina e, cada vez que se encontra num sítio desconhecido, aprende a olhar para as coisas de uma perspectiva diferente. Amazing Australia, An In-Depth Guide to Angkor e Lonely Planet IN Series: Taiwan são alguns dos trabalhos publicados pela autora.

Há mais possibilidades do que centros comerciais para o património de Taiwan?

6a edição | 06 2015

O Parque Criativo Huashan 1914 e o Parque Criativo e Cultural Songshan em Taipé são dois exemplos de sucesso de rejuvenescimento das indústrias culturais e criativas de Taiwan. Durante o período colonial japonês, os dois edifícios eram usados como fábricas. O Huanshan 1914 era uma fábrica de vinho, que foi abandonada em 1990, tornando-se mais tarde num espaço para artistas e músicos apresentarem os seus talentos. O edifício reverteu a favor do Estado em 2000 e a equipa gestora transformou-o entretanto num espaço da moda. O complexo Songshan era originalmente uma fábrica de tabaco. Após anos ao abandono, foi convertido em 2011 num centro criativo de design que oferece também espaços de exposição para a comunidade.


Há muitas coisas que não podem ser evitadas durante o processo de preservação e restauração de edifícios históricos. De acordo com as normas da UNESCO, os edifícios devem ser preservados juntamente com a sua história de forma realista e holística. Estes são os pontos de partida preliminares para os bens culturais. Mas Taiwan tem tido uma atitude muito discriminatória no que diz respeito à preservação de artefactos históricos. Assim que se ouve falar sobre a necessidade de preservar alguma coisa, é tomada de imediato alguma acção para interromper o processo. Por exemplo, é demolido algo antes de começar oficialmente o processo de revisão. Se determinado local for designado como património histórico a ser preservado, então perderá o seu valor comercial se não puderem ser construídos imóveis nessa zona—ainda mais se estiver localizado numa área nobre da cidade. É como se tratasse de uma galinha dourada que não pode pôr ovos. Tanto o parque de Huashan como o de Songshan estão localizados em zonas nobres de Taipé e ambos estiveram no centro de longos debates, em que se discutiu se as suas estruturas deveriam ser demolidas ou preservadas. Nem tudo sobreviveu. Máquinas preciosas, tecnologia, história, literatura e cultura perderam-se durante o processo. Até as principais estruturas das fábricas que subsistem foram convertidas em unidades individuais para serem arrendadas comercialmente, como centros comerciais.


Mas se não forem transformadas em lojas, então como é que se pode dinamizar e rentabilizar estas estruturas? Devemos optar por “parar no tempo” e deixar que estes edifícios permaneçam como museus? Na realidade, não é fácil ser-se proprietário de um espaço destes. Estas são estruturas que envolvem elevados custos de manutenção, devido à corrosão, infiltrações e por serem muito antigas. Os proprietários também não podem exigir o pagamento de rendas muito altas porque os grupos artísticos não têm condições para pagar. Por isso, apenas lojas com essa capacidade financeira poderão mudar-se para estes espaços. A única coisa que podemos fazer é tentar manter a história e a cultura vivas ao mesmo temo que se equilibram as contas.


Os museus fazem realmente dinheiro? Em última análise, isso vai depender do modelo que escolherem para gerar receitas. A preservação e a revitalização dos locais históricos devem ter como base o contexto cultural existente, de forma a permitir que a história sobreviva e seja transmitida. A região alemã do vale do Ruhr é um bom exemplo. Ali, o governo optou por uma abordagem integrada para os trabalhos de preservação histórica, colocando a comunidade e as cidades à frente das suas decisões. O reaproveitamento de edifícios históricos não significa apenas esvaziá-los, limpá-los e pensar como se podem tornar comercialmente viáveis. Em vez disso, a localização geográfica, as características do espaço, o tecido histórico, as vidas das pessoas que residem naquela zona e a interacção de todos estes factores devem funcionar como base para reflectir sobre como é que a próxima geração poderá aproveitar ao máximo estes espaços.