Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Design tailandês

3a edição | 03 2015

Os meios de comunicação social internacionais têm vindo a demonstrar nos últimos anos um interesse crescente pelo design tailandês. Até há bem pouco tempo, a Tailândia  aparecia nas páginas de revistas de viagem apenas pelos atributos gastronómicos ou pela paisagem. Mas hoje é também um destino para os apaixonados do design. Visitantes entram no país para comprar os mais variados objectos, desde cópias até produtos de marcas locais. Na Tailândia, a publicidade, o cinema e o design alcançaram um nível de criatividade impressionante.


 Uma crise pode ser vista como uma oportunidade, mesmo que seja comercial. A crise financeira asiática de 1997 arrebatou o sustento a muitas pessoas, mas garantiu o de muitas outras. A indústria publicitária tailandesa sempre foi activa e permitiu o desenvolvimento de muitos talentos que, depois da crise, começaram novas carreiras e abriram empresas de design. Nomes como Propaganda, uma marca de artigos para a casa, ou Greyhound, uma marca de roupa, foram criados por publicitários com um profundo conhecimento do mercado.


 O design tailandês reúne profissionais de diferentes origens: uns tiveram formação nas principais escolas internacionais de design; outros são nascidos e criados na Tailândia e construíram uma carreira à base de pura criatividade. Estes profissionais são jovens, não necessariamente maduros, mas estão dispostos a arriscar e não têm medo de falhar. Mesmo num ambiente difícil como é o mundo do design tailandês, podem vir a ter sucesso. Como diz Satit Kalawantavanich, director da marca Propaganda, as adversidades apenas ajudam a alimentar a criatividade, já que obrigam a pensar de forma inovadora. A Propaganda, conhecida marca de design de artigos domésticos, já arrecadou vários prémios internacionais. Um dos objectos que mais destaque tem tido é o “One Man Shy” da linha Mr. P, uma lâmpada de cabeceira com a forma de um ser-humano. E aqui o humor tailandês não fica de fora: o botão para ligar e desligar a luz está localizado na zona dos genitais.


 Alguns dos profissionais que conheço não tiveram educação na área do design. Alguns nem entendiam o conceito de design industrial quando começaram os seus negócios. À partida pode parecer um aspecto negativo, mas na realidade é uma mais-valia. Sem a formação tradicional, estas pessoas escaparam à influência das teorias do design e trabalham simplesmente com o seu instinto e ideal estético, atribuindo ao design tailandês contemporâneo um aspecto diferente e renovado.


 Também na Tailândia, o governo está a tentar promover as indústrias criativas. Há uma década, poucos jovens estudavam design ou outras áreas que não fossem tradicionalmente “máquinas de fazer dinheiro”. Hoje, porém, o design é um curso com forte procura nas universidades. O governo também abriu o Centro de Criação & Design Tailandês no Centro Comercial Emporium, com uma livraria de design que pode ser muito útil aos que querem seguir esta carreira. O sucesso do design naquele país deve-se em parte ao espírito empreendedor do povo tailandês. O Siam Center, por exemplo, foi renovado e está cheio de pequenas lojas a vender produtos de designers locais, desde roupa a artigos para casa. Algumas delas até oferecem serviços de entrega. O mercado Chatuchak de Banguecoque, com as suas nove mil bancas, é outro campo de ensaio para os jovens designers.


 Existe um ditado conhecido no mundo do design: quanto mais local for um artigo, mais global se pode tornar. A cultura indígena não é uma limitação, pelo contrário, pode ser aproveitada para fazer de um produto um exemplo de sucesso, caso consiga ser traduzida de forma clara para o público estrangeiro. O design tailandês está repleto de tradição e os visionários não vendem apenas o exotismo destas tradições: vão reaproveitá-las para criar produtos de qualidade, que sejam interessantes aos olhos da estética ocidental. Aqui, incluem-se designers como Planet 2001 e Yothaka.


Eu gosto particularmente das lâmpadas de Korakot Aromdee, um designer sediado em Banguecoque que é filho de um pescador. Inspirado pelas redes de peixe da sua terra natal, Korakot criou lâmpadas que combinam a tradição com um desenho contemporâneo. Ao mesmo tempo, conseguiu gerar alguns rendimentos para a sua terra natal.