Ron Lam

Escritora a residir no Japão, especializada em design, lifestyle e jornalismo de viagem, Ron trabalhou anteriormente como editora das revistas MING Magazine, ELLE Decoration e CREAM.


Fotógrafos que Adoram Crianças

15a edição | 06 2016

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Foto cedida por Hideaki Hamada


Voltei a Hong Kong durante alguns dias no ano passado e fiquei com o meu irmão. Depois de me maquilhar no meu quarto, de manhã, vi a minha sobrinha de seis anos à minha espera do lado fora, quando abri a porta. “Tia, o teu quarto cheira bem”, disse ela. Eu na verdade tinha espalhado perfume de flores brancas pelo quarto. A minha sobrinha inclinou a cabeça e olhou para mim com atenção. Com covinhas nas bochechas, ela sorri com os olhos. Durante o dia, pude reparar que os olhos dela estavam deslumbrantes. Queria muito fotografar aquele momento mas sabia que, assim que a minha câmara estivesse preparada, já não seria a mesma coisa. Ela provavelmente tentaria sorrir de qualquer maneira.

 

Acho que o comportamento das crianças é o mais natural e adorável de todos, quando eles não têm consciência da câmara.

 

No Japão, uma série de fotógrafos tornaram-se famosos por o seu forte ser fotografar crianças. Um dos mais conhecidos é Kotori Kawashima, que documentou a vida quotidiana da pequena menina japonesa Mirai. A cara da menina é admirável quando vista através da sua lente, não importa se ela está a comer ovos mexidos, se tem a cara cheia de gelado, ou se funga e assoa o nariz. As imagens também mostram o seu sorriso doce com uma flor na boca; e a sonhar acordada, abraçada a um pilar. A vida quotidiana de Mirai é bastante visível através dessas imagens, e alguns leitores pensarão que, porque Marai é filha do fotógrafo, as suas expressões foram captadas com naturalidade.

 

Enquanto as imagens de Marai são ricas e extravagantes, os retratos de crianças feitos por Hideaki Hamada mostram maioritariamente rostos inexpressivos. Hamada costumava trabalhar como web designer. Depois do nascimento do nascimento do seu primeiro filho, Haru, Hamada começou deliberadamente a dedicar-se à fotografia. Dois anos depois nasceu a sua segunda filha, Mina, e ele começou a documentar os irmãos, usando por vezes a sua favorita Pentax 67II, e outras vezes usado o seu smartphone.

 

Quando olho para as imagens de Hamada, não sinto que estou a olhar para fotografias mas para uma janela que me permite entrar num mundo de tranquilidade por trás daquele momento. Nesse mundo, os irmãos dão cambalhotas, tocam guitarra e cantam diante de um fã, e olham as ruas a partir da varanda. Eles não notam a existência de estranhos, tal como não prestam realmente atenção ao seu pai quando ele os fotografa. Como nós, Hamada é espectador. Ele observa os seus filhos tranquilamente. Nunca intervém ou participa no que eles estão a fazer. Ele disse o seguinte: “A maior parte dos meus trabalhos são fotos de família. Quando fotografo a minha família, especialmente os meus filhos, tento manter uma perspectiva objectiva. Nunca fico muito perto ou muito longe deles, como se estivesse a observá-los à distância. Acho que o que estou a fazer é mais como meramente observá-los. Faço-o a uma distância que me permite fotografar cuidadosamente a intangível mas ainda assim visível ambiência que rodeia os dois irmãos. O que espero é que uma foto consiga dar espaço às pessoas para imaginarem o que aconteceu antes e o que acontecerá depois do momento em que foi tirada”. Hamada tem explicado repetidamente as suas técnicas fotográficas em diferentes entrevistas, e a razão pela qual tira fotografias deste modo é porque gosta de observar como os seus filhos crescem. Este pensamento é tão poderoso que ele é capaz de captar momentos cândidos dos filhos através da sua lente.

 

“A maior parte das pessoas quer captar momentos de forma natural através da sua lente. Mas os miúdos não riem ou choram com grande regularidade. Na maior parte do tempo são inexpressivos. Quero documentar o que os meus filhos fazem verdadeiramente no seu dia-a-dia. Ao fazer isto, os momentos intemporais que aparecem ocasionalmente podem ser registados e convertidos numa imagem que nunca nos cansaremos de olhar”, diz Hamada.

 

Como pode uma imagem mostrar o quão adoráveis são as crianças? Quando nós adultos dizemos aos miúdos para posarem para uma fotografia, normalmente pedimos-lhes que sorriam ou que assuma uma certa pose. Essas imagens são apenas aquilo que pensamos que uma “criança adorável” deve ser, não o que ela é na verdade. Acredito que se Kawashima, como Hamada, apenas usasse o seu smartphone para tirar fotografias, seria também capaz de produzir imagens excelentes e amorosas de crianças. Isto é possível porque ambos estão dispostos a gastar tempo a observar crianças. Eles testemunham o seu mundo do dia-a-dia e estão determinados em protegê-lo.

 

Hamada disse que continuará a fotografar os seus filhos até que Haru e Mina lhe peçam para parar. Ele espera que estas fotos possam no futuro ser um presente para os seus filhos. Afinal de contas, eles são os leitores mais importantes destas imagens.