Ho Ka Cheng

Supervisor da Associação Audio- Visual CUT, Ho é um dos realizadores do projecto Macau Stories 1 e esteve também envolvido no Macau Stories 2 – Love in the City e no Macau Stories 3 – City Maze. Macau Stories 2 – Love in the City recebeu uma menção especial no festival português de cinema Avanca e foi mostrado nos festivais de Tóquio e Osaka.

As bases da indústria cinematográfica de Macau

5a edição | 05 2015

A história do desenvolvimento da indústria cinematográfica de Macau pode dividir-se em três partes.


Em primeiro lugar está a produção, que se pode dividir em filmes comerciais e não-comerciais. Ainda que seja difícil encontrar produções de Macau que encaixem na definição tradicional de “comercial”, podemos tentar. “Comercial” serve aqui para descrever filmes que vão ao encontro dos gostos do grande público, que duram cerca de uma hora e meia e são exibidos em salas de cinema. Os filmes “não-comerciais” são mais individualistas, tais como os chamados microfilmes.


Em segundo lugar temos a promoção, que se refere ao acto de trazer filmes estrangeiros a Macau ou promover os filmes locais no exterior. Dar a conhecer filmes estrangeiros independentes, que não sejam convencionais nem comerciais, ajuda certamente na formação do público de Macau, permitindo que haja acesso a uma maior selecção de filmes bem diferente do que costuma chegar ao grande ecrã. Esta pode ser outra forma de ajudar a desenvolver a indústria de cinema da cidade.


Mas os filmes de Macau também devem olhar para fora de Macau, para que pessoas de outras regiões do mundo possam ficar a conhecer a cultura local. Por agora, os filmes de Macau não são exibidos comercialmente em outros países, mas deveriam estar pelo menos disponíveis para ajudar ao desenvolvimento do intercâmbio cultural entre Macau e outras regiões.


O terceiro elemento é a educação cinematográfica – tanto no sentido profissional como liberal. O sentido profissional materializa-se com a educação universitária, incluindo a formação em áreas como a realização, representação, educação técnica, bem como guionismo, distribuição, promoção, organização de festivais de cinema, teoria do cinema e assim por diante. São todas áreas importantes. Neste momento, nenhuma destas competências pode existir como indústria autónoma em Macau. Uma pessoa não consegue viver apenas da escrita guiões. Mas é importante que os estudantes do ensino superior possam estar expostos a todos estes aspectos da indústria.


A educação liberal de cinema refere-se, por exemplo, à promoção do filme nas escolas primárias e secundárias. Ao utilizar o cinema como meio de comunicação, os professores podem alargar os horizontes dos alunos, despertar o seu interesse por diversas questões internacionais e promover o pensamento crítico. Através do cinema, os estudantes podem aprender mais sobre a humanidade e experimentar diferentes formas de interacção, ajudando-os na construção dos seus próprios valores e de uma visão do mundo.


Macau ainda não tem uma indústria cinematográfica de relevo, mas já deu o primeiro passo. Para começar, precisamos de criar um ambiente saudável ao cinema para que a indústria floresça. Para alcançar este objectivo, é necessário que três tipos de pessoas trabalhem em conjunto: os produtores, os investigadores de cinema e o público. Apenas quando estes três grupos estiverem completamente unidos poderá a indústria avançar no caminho certo. Por exemplo, se depois de produzido um filme nem a crítica nem o público demonstrarem qualquer interesse, então é impossível tirar proveito dos valores culturais dessa obra. Isto não é saudável para o desenvolvimento pleno da indústria cinematográfica. Entenda-se por “saudável” uma produção de cinema local que entretém do ponto de vista comercial, mas que também contém valores culturais e históricos que podem inspirar o público e fomentar a reflexão. Quando produtores, críticos e espectadores estiverem juntos neste processo, então será possível construir bases para o desenvolvimento de uma indústria saudável em Macau, que seja diversa, inovadora e essencial.


Na última década, o governo tem vindo a apostar cada vez mais no financiamento da indústria cinematográfica. O público local também está a prestar mais atenção às produções de Macau e os realizadores continuam a evoluir qualitativa e quantitativamente. Mas Macau ainda não tem talentos na área dos estudos de cinema, o que, quando acontecer, poderá ajudar a aprofundar o sentido e o valor das produções locais. Até agora, não houve quem conseguisse abrir a porta ao desenvolvimento dos estudos nesta área em Macau. Uma cultura generalizada de crítica de cinema será uma referência para futuros cineastas e poderá ajudar à sua criatividade. Os novos cineastas podem tirar partido dos trabalhos dos seus antecessores para seguirem em frente e não repetirem os mesmos erros.