Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Design em Beirute

22a edição | 08 2017

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Instituto Issam Fares


Beirute é mais internacional do que eu pensava. Localizada no Médio Oriente, a cidade acolhe cristãos e muçulmanos em iguais proporções. Mesmo se visitarmos a cidade durante o Ramadão, a maioria dos restaurantes estará aberta. Ao longo dos últimos 20 anos, a situação política do Líbano tornou-se mais estável (apesar de seriamente afectada pela recente turbulência na Síria). As pessoas no exílio regressaram ao país, levando consigo as mais modernas ideias da Europa e da América. Jantei no famoso restaurante Lisa, cuja decoração está muito na moda, podendo claramente ser destacada em qualquer revista de design. A dona do restaurante começou em Paris, abrindo depois um estabelecimento na sua cidade natal, Beirute.


Como estou interessado em design,comecei por procurar exemplos contemporâneos na capital libanesa. A Semana do Design de Beirute terminou em meados de Maio. E se Beirute possui capacidade para realizar o evento, é porque, definitivamente, tem muito design novo e divertido.


Os estilos arquitectónicos na cidade são uma mistura que nos lembra que ela foi assolada por terríveis guerras, o que levou a um crescente número de espaços vazios. Os designers têm, portanto, oportunidade de fazer bom uso da terra. Edifícios de diferentes tipos emergem das ruínas como se mostrassem um futuro brilhante aos residentes locais. Muitos desses edifícios são projectados por célebres ateliers de arquitectura. Por exemplo, Herzog & de Meuron Architekten (responsável pelo design do Estádio Nacional de Pequim) projectou os Beirut Terraces, que se tornou o mais caro dos edifícios residenciais. Com diferentes camadas e níveis, o prédio parece muito vanguardista e pitoresco. Na cidade, há também alguns edifícios e ruas de estilo retro. Alguns deles, muito novos na sua aparência, parecem tentar recuperar o ambiente mediterrânico que em tempos permeou a cidade. Algumas ruínas continuam por lá. Com vinte e poucos andares, o edifício do Holiday Inn ainda exibe buracos de bala nas paredes. Parece um prédio inacabado, como se fosse uma estranha peça de arte de uma instalação. Situado no coração da cidade, é uma lembrança pungente dos horrores da guerra.


Nascida no Iraque, a falecida arquitecta Zaha Hadid estudou na Universidade Americana de Beirute, um importante instituto do Líbano. Ela criou o Instituto Issam Fares para a sua alma mater. As linhas curvas que se tornaram a sua imagem de marca serpenteiam pelas colinas, e as janelas de formas irregulares, bem como o design geométrico dos prédios, contrastam com os antigos edifícios das proximidades. Passeei pelo tranquilo campus, vendo em frente o azul do mar Mediterrâneo e, atrás, a floresta. Estudar num lugar tão lindo pode, de facto, estimular a criatividade e a inspiração.


O Líbano possui vários designers contemporâneos. A maioria dos boutiques fica no centro da cidade. Nada Debs é uma das principais designers no Líbano. Ela passa a maior parte do tempo no Japão, pelo que não é difícil perceber porque é que o seu design evidencia um toque japonês. Os bancos de bambu e os ténis-plataforma combinam a serenidade japonesa com o colorido do Médio Oriente. O encontro entre os dois estilos origina o estilo libanês contemporâneo. Perto da loja de Nada Debs existe uma outra, chamada Homesick, na qual é possível encontrar mobiliário shabby chic concebido a partir de tecidos libaneses em segunda mão e latas de alumínio.


As pessoas em Beirute têm um estilo de vida hedonista, o que talvez esteja relacionado com a experiência das guerras ao longo dos anos. Vivem como se não houvesse amanhã e ninguém sabe o que acontecerá no dia seguinte. Isso explica por que motivo a vida nocturna na cidade prospera e o lema é aproveitar a vida ao máximo. O mais famoso clube nocturno é o BO18. O seu design reflecte a história contemporânea da capital e a sua localização é simbolicamente significativa, na medida em que foi construído sobre um campo de refugiados palestinianos. O arquitecto incluiu no design um capítulo da história que as pessoas em Beirute têm relutância em recordar. No rés-do-chão, o espaço lembra um túmulo. Cadeiras e bancos assemelham-se a caixões. O telhado do clube é retráctil mas, quando está fechado, parece um heliporto visto de cima. O espírito dos foliões está no auge quando o amanhecer os surpreende e o telhado é então aberto para permitir que a luz solar caia sobre aqueles que esperam a redenção. Eles dançam ferozmente, como se estivessem indefesos e aguardassem ser salvos. O design do BO18 foi rotulado como “arquitectura de guerra”, e a revista Wallpaper elegeu-o por três anos consecutivos como um dos melhores clubes do mundo.