Yi-Hsin Lin

Formado na Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidade de Londres. Vive e trabalha actualmente em Londres como escritor. Lin fez curadoria de pintura para o Museu Vitória e Alberto, bem como para o Museu Britânico. É também professor de Arte Chinesa na Christie’s Education e colabora com várias revistas de arte em língua chinesa.


Adeus União Europeia! As Indústrias Culturais e Criativas no Reino Unido depois do Brexit

17a edição | 10 2016

03_林逸欣_01.jpg


No dia 24 de Junho, quando foi anunciado que o Reino Unido vai abandonar a União Europeia (UE), uma onda de choque político atravessou o país. A libra atingiu o seu valor mais baixo em três décadas e aqueles que querem a permanência do Reino Unido na UE protestaram contra a decisão. Até os líderes parlamentares dos maiores partidos políticos tiveram de demitir-se um após outro. A disputa sobre “sair ou ficar” continua. Naturalmente, o referendo sobre o “Brexit” teve um tremendo impacto nas indústrias culturais e criativas do Reino Unido. As organizações culturais, museus, o mercado de arte e os negócios criativos estão todos a ser severamente afectados. No passado, o Reino Unido e a UE tinham muitos esquemas de cooperação. Ambos partilham não apenas uma história e cultura semelhantes, mas também trabalham em conjunto no que toca ao comércio e à economia. Agora, com estas mudanças tão drásticas, o que é que vai acontecer às indústrias culturais e criativas no Reino Unido? Quais são os próximos passos? Estas questões merecem a nossa permanente preocupação.


Apoios Financeiros para Organizações Culturais e Museus


A UE tem sido uma dos maiores financiadores das organizações culturais e dos museus do Reino Unido. Os grupos artísticos locais, por exemplo, receberam bolsas no valor total de 40 milhões de euros em 2014 e 2015, do programa Europa Criativa, um programa iniciado por um grupo na UE. Outros fundos, como o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e a Capital Europeia da Cultura também deram bolsas e subsídios ao Reino Unido. Agora, o “Brexit” tornou-se uma realidade. Estas parcerias e acordos de cooperação não vão sofrer alterações até que as negociações entre os dois lados estejam completadas (o que pode levar alguns anos). Mas a decisão de abandonar a UE coloca dúvidas sobre se esta continuará a apoiar o Reino Unido. É notório que o governo britânico congelou e cortou orçamentos no sector das artes e da cultura nos últimos anos. Se não receber quaisquer fundos da UE, poderá o Reino Unido gerir este sector por si próprio?


O impacto do “Brexit” no mercado de arte


Várias exposições de verão foram organizadas em Londres logo após o referendo sobre o “Brexit”. Entre elas, a Art Antiques London, a Art & Antiques Fair Olympia e a Masterpiece London. As preocupações de vendedores e compradores sobre como o “Brexit” irá afectar o mercado de arte britânico foram imediatamente conhecidas. No passado estes eventos atraíram imensos visitantes. Mas este ano foi bastante calmo. Vários expositores disseram que foi possível sentir o abalo do “Brexit” e que é previsível que venha a ter um impacto negativo no mercado de arte, mas ninguém sabe por quanto tempo esse impacto se sentirá. Por outro lado, organizações de negócios como a Federação Britânica do Mercado de Arte e a Associação de Negociantes de Arte e Antiguidades, bem como a Sociedade de Leiloeiros e Avaliadores de Belas Artes, referiram que vão “esperar para ver” o que acontece, o que talvez seja a melhor forma de reagir ao mercado. É necessário ter cabeça fria e mãos firmes para garantir que é possível manter a calma quando se enfrenta um clima de incerteza.


Pré-requisitos para o Desenvolvimento das Indústrias Culturais e Criativas


No passado, o Reino Unido e a UE adoptaram as mesmas políticas para as indústrias culturais e criativas. Agora estão a tomar posições diferentes e isto levará a que o futuro seja incerto. Por exemplo, as regulações referentes aos direitos dos artistas em caso de revenda de trabalhos, licenças de exportação ou o imposto de importação VAT terão de ser revistos; políticas de serviços bancários e de facturação, alfândega e transportes, bem como a importação de talentos – tudo terá de ser reescrito. Enquanto isso, o Reino Unido não está totalmente numa posição desvantajosa, mas o modo como regressará à actividade dependerá muito da sabedoria e da visão do parlamento, já que terá de ser ele a guiar a sociedade para fora desta crise. Agora que a decisão de abandonar a UE está confirmada e o Reino Unido prefere fazer o seu caminho a solo, estou feliz por poder ver como é que o Reino Unido vai fazer para regressar aos tempos de glória. No entanto, a economia mundial e a sociedade estão agora muito globalizadas. A minha questão é: pode mesmo o Reino Unido sobreviver por sua conta?