Associação de Arte Point View: onde a qualidade de arte é importante

05 2015 | 5a edição
Texto/Ng King Ling, Allison Chan e Fong Son Wa

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Se, por um lado, a Associação de Representação Teatral Hui Koc é um grupo de teatro direccionado para a comunidade, por outro, a Associação de Arte Point View, estabelecida em 2008, tem como alvo o mercado estrangeiro. A associação é convidada todos os anos para actuar no exterior. Focada sobretudo no teatro, a Point View aposta em produções de carácter experimental, recorrendo à utilização de elementos multimédia. Por exemplo, o espectáculo Playing Landscape, que teve boa recepção do público, combina pintura, simbolismo, formas e teatro. Há dois anos, o grupo foi convidado para participar no Festival Internacional de Teatro Mindelact de Cabo Verde, em África. Também três das suas mais recentes produções—Playing Landscape, o teatro musical Picnic in the Cemetery e o microteatro Puzzle the Puzzle foram apresentadas na edição do ano passado do Festival de Edimburgo no Reino Unido, num total de quatro semanas de actuações que receberam boas críticas.

 

Conhecida sobretudo por uma abordagem artística menos convencional, a associação Point View diferencia-se dos grupos de artes performativas tradicionais de Macau. Há quem olhe para esta diferença como uma lufada de ar fresco, enquanto outros consideram que apenas uma minoria poderá sentir-se atraída por este registo. Erik Kuong, director executivo da associação, tem outra perspectiva.

 

“Na minha opinião, o desenvolvimento do nosso nicho não tem nada que ver com a busca de popularidade. Penso que não é necessário ser se grosseiro. Se o público que assiste a espectáculos de artes performativas for uma minoria, então o nosso objectivo é atrair a convergência da minoria”. Kuong diz que as artes visuais e o teatro nunca foram actividades de entretenimento dominantes e considera que é muito importante que se olhe para fora de Macau à procura de oportunidades de expansão e desenvolvimento.

 

A maioria dos membros que compõe o núcleo duro da associação recebeu formação no estrangeiro e regressou a Macau para dar seguimento à sua carreira artística. Através da combinação de elementos tais como a música, moda, produção de teatro e design, a associação desenvolveu um nicho na área da produção multimédia e está agora focada num crescimento sustentado da prática criativa. Kuong acredita que cada actuação é uma obra de arte viva e que é necessário tempo para que a boa arte evolua e se desenvolva. Macau, no entanto, nem sempre oferece um ambiente propício ao crescimento natural das produções artísticas.

 

“Estranhamente, em Macau, uma peça de teatro sobe ao palco apenas uma ou duas vezes, ao contrário de outras regiões, onde os grupos artísticos têm um ano para desenvolver um espectáculo e ganhar reputação.” Sendo a qualidade um factor importante para a Point View, a associação prefere trabalhar em apenas uma ou duas produções anuais.

 

Claro que nem todos os grupos de teatro podem dar-se a este luxo. Para garantir financiamento governamental, os grupos artísticos são geralmente avaliados pela quantidade e não pela qualidade das suas produções. Isto quer dizer que quanto mais trabalho um grupo apresentar, mais apoio financeiro pode arrecadar. Perante esta limitação, Kuong acredita que, apesar de um aumento do financiamento do governo, a qualidade das produções de teatro em Macau não tem crescido proporcionalmente. Esta situação deve-se sobretudo à falta de tempo que os actores têm para trabalhar numa produção e à falta de instalações, tornando difícil dinamizar um espectáculo ao longo do tempo. Desta forma, a qualidade do produto criativo fica comprometida.

 

“Se os grupos de teatro pudessem apresentar apenas uma ou duas peças por ano, então teriam muito mais tempo para desenvolver e melhorar o produto final, e os actores teriam oportunidade e tempo para mostrar todo o seu potencial.” No caso da Point View, o espectáculo Playing Landscape, agora na sua sétima versão, foi aclamado internacionalmente e está em digressão todos os anos por um país diferente.

 

“Há pouco público de teatro em Macau. Eu diria que é quase impossível atrair 30 mil espectadores em Macau. No entanto, se explorarmos outros mercados, podemos contar com um público de mais de 3000 pessoas em Taipé, 5000 em Guangzhou, ou mesmo procurar outros destinos como Pequim. É a isto que me refiro quando falo em procurar uma convergência da minoria”, acrescenta o director executivo.

 

Erik Kuong acredita que a luta por mais público não é uma competição entre vários grupos de teatro, mas entre o teatro e outros programas de entretenimento. “Questiono-me sempre se a oferta dos grupos de teatro de Macau bastará. Por exemplo, se eu estivesse interessado em ver um espectáculo, é possível que não encontrasse nada na agenda cultural, já que uma peça local é apresentada apenas duas ou três vezes. Perante estas limitações, é difícil atrair novos espectadores.”

 

De acordo com Kuong, o governo não deveria avaliar uma produção pela bilheteira mas pelo desempenho individual. “O governo tem de aprender a analisar melhor as tendências de crescimento do público, fazendo um levantamento demográfico com base na taxa de crescimento dos espectadores de teatro. Isso poderá ajudar as autoridades a fazer uma avaliação mais abrangente e precisa dos grupos artísticos e das suas produções criativas.”