Teatro Hiu Koc: partilha de recursos no sector das artes performativas

05 2015 | 5a edição
Texto/Ng King Ling, Allison Chan e Fong Son Wa

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Teatro Hiu Koc: partilha de recursos no sector das artes performativas

 

Empresas privadas de renome, como é o caso do Venetian Macau e do City of Dreams, têm capacidade para comportar os custos de um ou mais grupos artísticos. Mas quais são as possibilidades e expectativas dos artistas independentes e grupos comunitários de teatro em Macau? Como é que se podem manter competitivos?

 

O Hiu Koc, fundado em 1975, é um dos mais importantes grupos de teatro comunitário em Macau e a sua base sólida é muito invejada por teatros mais jovens. Tem, por exemplo, as suas próprias instalações.

 

Billy Hui, director artístico do Hiu Koc, nota: “Há dez anos, Macau era uma cidade bastante atrasada devido à sua fraca economia. Muitos empresários fabris deixaram a cidade e rumaram ao Norte à procura de oportunidades de negócio. Nessa altura, o nosso grupo conseguiu investir num edifício industrial, onde actualmente estão localizadas as nossas instalações. Se não o tivéssemos feito há tanto tempo, estaríamos hoje a lutar arduamente para sobreviver, já para não falar da impossibilidade de alcançar algum êxito e prosseguir o nosso desenvolvimento.”

 

De facto, com a subida dos preços do imobiliário, tem sido difícil para os grupos artísticos assegurar um espaço para ensaios. A possibilidade de ter as próprias instalações tem sido um dos factores responsáveis pelo êxito do Hiu Koc. No ano passado, quando o grupo terminou de pagar o espaço, decidiu lançar um programa de apoio financeiro para grupos de teatro com dificuldades económicas, oferecendo o arrendamento gratuito de duas áreas para encorajar a criação de produções e apoiar artistas performativos emergentes.

 

“Devido à alta dos preços dos imóveis, muitos grupos de teatro são obrigados a mudar de instalações de dois em dois anos. Depois existe ainda a questão dos recursos humanos, pois há falta de gestores artísticos. É muito difícil atrair um público de dimensão considerável se não for feita boa publicidade. A falta de promoção tem geralmente um impacto negativo na actuação e no moral dos actores, o que acaba por ser um ciclo vicioso”, refere Hu.

 

Com mais de 40 anos de história, o Hiu Koc conta hoje com uma equipa de 70 pessoas—a maioria trabalha a tempo parcial e apenas os responsáveis pela produção e finanças estão envolvidos no projecto a tempo inteiro. Por vezes, os próprios actores dão apoio nas tarefas administrativas. Hui explica que o espaço não é gerido como uma organização profissional, mas de forma amadora por um grupo de apaixonados por teatro. “Até agora, este provou ser o modelo que melhor nos serve”, diz.

 

Como é que Hui justifica esta posição? Basicamente, a maioria dos artistas experientes do Hiu Koc trabalha a tempo inteiro e alguns já estão reformados. Por isso, o grupo não depende da produção permanente de peças de teatro para cobrir os custos correntes. Por outro lado, jovens profissionais com formação em teatro no estrangeiro têm estabelecido grupos de teatro que operam de forma auto- sustentável.

 

“Como trabalhamos a tempo parcial na área do teatro, podemos ceder ao longo do dia as nossas instalações a outros grupos para os ensaios e práticas criativas, tornando possível partilhar os nossos recursos. Além disso, também temos pensado em formar um novo grupo de teatro com a nossa equipa actual, para que tenhamos um subgrupo que funcione como um grupo artístico a tempo inteiro, enquanto a outra equipa continua a trabalhar a tempo parcial. O nosso objectivo é terminar esta restruturação num espaço de três anos. Por outras palavras, prevemos que o Hiu Koc cresça em dimensão, com grupos de teatro exclusivos, um centro de arte e outro tipo de produções criativas.”

 

Nas artes criativas, a atribuição de prémios é geralmente vista como a melhor forma de validar o trabalho dos bons actores e produções. Em muitos países, prémios não são apenas sinal de que os actores são reconhecidos pela indústria, mas permitem aos vencedores receberem financiamento para formação no estrangeiro e podem traduzir-se em oportunidades de digressão para as produções galardoadas. E qual é a realidade em Macau? A organização anual de uma cerimónia de prémios poderia ser benéfica? Hui admite que as opiniões de quem trabalha nesta indústria local dividem-se.

 

“É verdade que a atribuição de prémios traria mais publicidade dos meios de comunicação social. No entanto, a competição resultante da premiação também pode criar rivalidades e cisões dentro da indústria. Este tema é debatido há anos e, por enquanto, não existe um consenso real entre os que vivem da arte. A prioridade actual do sector passa por atrair mais apoio e público para o teatro. A possibilidade de actuar com maior frequência é o melhor e mais gratificante reconhecimento para o trabalho dos grupos de teatro. Um espectáculo que só pode subir ao palco uma ou duas vezes tem dificuldades em provar o seu valor. No ano passado, apresentámos peças de longa duração e a maioria subiu ao palco dez vezes consecutivas ou mais. A peça Lungs, por exemplo, teve um sucesso inédito. Do mesmo modo, espero que o teatro em Macau possa florescer, subir mais vezes ao palco e ter oportunidade de se apresentar noutras áreas da região do Delta do Rio das Pérolas. Eu diria que os prémios são secundários.”