A Voz da Holanda

03 2015 | 3a edição
Texto/Ng Kin Ling

O programa Eu Sou Cantor, transmitido pela Televisão de Hunan, atirou para o estrelato o artista de Hong Kong G.E.M.. Os reality shows, que andam à caça de talentos musicais, têm vindo a ganhar espaço nos últimos anos em toda a China. O género atingiu o pico de popularidade há dois anos, quando a televisão Zhejiang Satellite TV estreou A Voz da China, uma adaptação do programa holandês A Voz da Holanda.


Em 2012, a Canxing Productions, uma subsidiária da STAR Greater China, adquiriu ao grupo holandês Talpa Media os direitos para a produção de um formato chinês deste programa musical. A versão chinesa de três milhões de yuan, co-produzida pela Zhejiang Satellite TV, foi um sucesso fenomenal e gerou audiências inigualáveis.


Criado por John de Mol e transmitido no canal holandês RTL4, o programa A Voz da Holanda consegue distinguir-se entre muitos outros reality shows de música. Artistas famosos avaliam um grupo de cantores amadores e seleccionam os mais promissores, que começam então um intenso treino musical.À medida que os aprendizes recebem formação das estrelas para fazer frente a todos os outros concorrentes, o espectáculo capta o seu espírito inspirador na concretização de um sonho.


As fortes audiências de A Voz da Holanda levaram a que estações de televisão dos Estados Unidos da América, França, Reino Unido e Bélgica pagassem elevadas somas para adquirir os direitos exclusivos do programa. De acordo com dados oficiais das autoridades holandesas, o país é o terceiro maior exportador de formatos televisivos. Além do programa A Voz da Holanda, também o Big Brother (um reality show que conquistou o mundo) e o Deal or No Deal têm origem holandesa.


 Apesar de ser um país de pequena dimensão, a Holanda desenvolveu uma reputação internacional pela variedade de programas que oferece. A chave do sucesso: abertura de espírito.


A Holanda, um país muito liberal e tolerante, foi a primeira nação a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. É também casa de um dos mais conhecidos red Light disctricts na Europa, onde circulam legalmente cigarros de marijuana.Este espírito livre encontra-se também na indústria televisiva. Um país pequeno, que tem uma população de apenas 17 milhões de pessoas, é surpreendentemente servido por 11 canais de televisão por satélite. Naturalmente, sobrevivem os mais capazes num cenário em que a concorrência é feroz. A Holanda conserva a sua inteligência para o negócio desde tempos antigos, quando liderava o comércio marítimo global. Um exemplo: conscientes de não terem os recursos necessários para a produção de séries que rivalizem com as dos seus homólogos americanos, os holandeses decidiram importar essas séries.


Ao investir recursos e trabalho naquilo que faz bem – programas de variedades –  a Holanda tornou-se conhecida em todo o mundo como exportadora de formatos desta especialidade.


Em 2011, as indústrias criativas da Holanda geraram 7,1 mil milhões de euros – 1,9 por cento do PIB nacional. Cerca de 172 mil pessoas trabalhavam apenas nesta indústria. Se o sucesso dos reality shows holandeses o apanhou de surpresa, espere até ouvir isto: cerca de 35 por cento das despesas no mercado europeu de jogos online é proveniente da Holanda. Dada a personalidade moderada dos holandeses, o leitor dificilmente suspeitará que as indústrias criativas do país estão constantemente entre as dez maiores do mundo. Tal como provavelmente não sabia que A Voz da China é uma adaptação de A Voz da Holanda.


Olhemos agora para a indústria televisiva de Macau e de Hong Kong. Em Macau, existe apenas uma estação de televisão; em Hong Kong, a ATV está há muito adormecida, enquanto a TVB continua a produzir o mesmo tipo de conteúdos há mais de 20 anos. Poucas vezes o status quo tem sido desafiado. As ambições da HKTV caíram por terra quando concorreu a uma licença de televisão de acesso livre, que foi rejeitada por questões políticas.


A abertura de espírito de um país e de um povo é um pré-requisito para que as indústrias criativas possam crescer. Neste aspecto, Hong Kong e Macau estão muito atrás do Interior da China e de Taiwan, conhecidos pelas múltiplas ofertas de canais de televisão.