Ho Ka Cheng

Supervisor da Associação Audio- Visual CUT, Ho é um dos realizadores do projecto Macau Stories 1 e esteve também envolvido no Macau Stories 2 – Love in the City e no Macau Stories 3 – City Maze. Macau Stories 2 – Love in the City recebeu uma menção especial no festival português de cinema Avanca e foi mostrado nos festivais de Tóquio e Osaka.

O Esquema Ideal para a Educação Cinematográfica

16a edição | 08 2016

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Há um ditado que diz que “um minuto no palco leva dez anos de trabalho árduo fora do palco”. Na indústria cinematográfica, quer a preparação dos membros da equipa em todos os campos (produtividade), quer a capacidade do público para analisar e interpretar imagens (conhecimento) não podem ser cultivados do dia para a noite. Pode levar dois a três a anos, ou mesmo três a cinco anos para que um filme se desenvolva da ideia inicial até ao momento da venda pública de bilhetes (consumo). Um filme de sucesso envolve sempre a educação cinematográfica de um país ou região como um todo, bem como o desenvolvimento da indústria. O curso ideal de um filme pode ser dividido em: ideia, preparação, rodagem, pós-produção, estreia, reacção da crítica cinematográfica, participação em festivais e competições, e feedback abrangente da sociedade. A cereja no topo do bolo é que o filme acabe por alcançar uma reputação histórica. Por outro lado, as condições ideais para a educação cinematográfica ideal de um país ou região podem ser dividas em: primeiro, educação geral em cinema nas escolas primária e secundária; segundo, educação geral em conhecimento profissional sobre cinema e humanidades durante a licenciatura; terceiro, produção de filmes do ponto de vista prático, estudo de teorias de cinema, gestão, marketing e distribuição de filmes comerciais nos níveis de mestrado ou doutoramento.


Em primeiro lugar, os meios de comunicação (incluindo o cinema, a televisão e a internet) são inseparáveis do nosso dia-a-dia, e tornaram-se num nível básico de cultura contemporânea. As imagens são ferramentas importantes para reproduzir as notícias, a política, outros temas e acontecimentos históricos. Através de imagens vívidas, o valor da nossa cultura é redefinido. Numa sociedade pejada de meios audiovisuais, tornou-se num requisito básico do cidadão moderno aprender como interpretar, criticar e examinar os média visuais, ou mesmo estudar como pode uma pessoa expressar-se através de imagens. Posteriormente, isto também ajuda a melhorar o conhecimento cinematográfico.


Em segundo lugar, é na verdade muito simples aprender como fazer um filme ou perceber a estrutura da indústria cinematográfica – basta trabalhar vários anos numa produtora de cinema. Então, para quê dar-se ao trabalho de estudar cinema na universidade? Porque o papel das universidades não é, e não deve ser, apenas o de uma “escola de treino vocacional” que treina alunos para que aceitem a linha de trabalho, o sistema e os formatos cinematográficos vigentes – isso não traria qualquer melhoria. É suposto que as universidades estimulem a capacidade dos estudantes para que tenham um pensamento original e que os inspirem a inovar com todo o tipo de possibilidades, para que de futuro possam trazer novo vigor à indústria do cinema. Em particular, os alunos devem ser cultivados no que toca às suas qualidades humanísticas. Sem possuírem valências académicas de filosofia, história, artes, literatura e ciências sociais, mesmo que não sigam o caminho da indústria cinematográfica, pelo menos tornar-se-ão pessoas dedicadas à cultura.


Em terceiro lugar, os mestrados ou doutoramentos podem ser divididos em três direcções:


Criação cinematográfica: inovação especializada e experimentação de diferentes métodos de trabalho de produção cinematográfica. A Academia de Cinema de Pequim, por exemplo, tem programas de mestrado de Escrita de Argumento, Realização, Performance e Teoria, Música, etc.


Estudos teóricos: o estudo da teoria cinematográfica é útil para colocar os filmes contemporâneos num sistema cinematográfico mais amplo e para permitir uma análise histórica, fazendo uma sumarização sistematizada e avaliação dos filmes actuais, trazendo outro nível de mentalidade inovadora aos criadores cinematográficos, tendo impacto na percepção do público e na avaliação dos filmes, e estabelecendo um lugar na história do cinema para um determinado filme ou realizador.


Gestão cinematográfica: as vendas e o marketing, e o respectivo enquadramento legal da indústria cinematográfica actual, são tão complexos que podem ser tratados como uma profissão em si mesmos. Envolvem captação de capital, financiamento, linhas de crédito, negociação de direitos autorais e distribuição, leis de propriedade intelectual, leis de trabalho, seguros, protecção de dados pessoais, etc. Isto requer a preparação de uma enorme quantidade de contratos. Por isso, os gestores de cinema precisam hoje em dia de ter valências em áreas como o direito, a gestão comercial, as vendas transnacionais e propostas de marketing, e a distribuição dos filmes em sala.


Para que um realizador possa subir ao palco e receber reconhecimento e glória, são necessárias décadas de educação cinematográfica profissional, estudos humanísticos e o apoio total de energias inovadoras no mundo da venda de direitos cinematográficos.