Lo Che Ying

Lo é o produtor de animação veterano, tendo começado a trabalhar na área de animação independente desde 1977. As suas obras ganharam consecutivamente quarto vezes o prémio do Hong Kong Independent Short Film Festival do grupo de animação e, posteriormente, foi convidado para ser membro do júri. No ano seguinte, assumiu funções como animador do Departamento de Televisão da RTHK até 1993. Nós últimos anos tem-se dedicado à promoção da indústria de animação de Hong Kong e ao planeamento e organização de festivais de anime, sendo o curador da Exposição “50 Years of Hong Kong and Taiwanese Animation”. Actualmente ele é o secretário-geral da Associação da Animação e Cultura de Hong Kong.

Animação Chinesa co-elaborada pela parte japonesa e pela de Hong Kong

46a edição | 10 2021

Falando de desenho animado, acredito que o mais visto é o anime japonês, seguido pela animação comercial americana. No que toca à animação chinesa, apesar de algumas obras altamente destacáveis lançadas nos últimos anos, como Ne Zha (2019) cuja bilheteira atingiu os 5 mil milhões de yuans, quanto é que o público sabe, realmente, acerca da animação chinesa?


Na região asiática, a China e o Japão são os países que mais cedo desenvolveram a produção de desenho animado; tem, pelo menos, cem anos de história. Fica, por este motivo, claro que as técnicas de animação contaram, decerto, com a influência da Europa e dos EUA, mas, de facto, há muitas personagens e histórias pouco conhecidas que contribuíram para o desenvolvimento real da animação. Esses materiais históricos são, na verdade, de grande valor, sobretudo para os pesquisadores da história da animação.


Quanto à publicação dos livros sobre a história da animação chinesa, pode-se achar que, como há tantos académicos no Interior da China e a animação tem sido um tópico popular nos últimos tempos, deve haver várias obras no mercado. No entanto, entre os mais de dez livros sobre a história da animação chinesa lançados nos últimos vinte anos no Interior da China, a obra mais recente, The History of China’s Animation (1922-2017), editada por Sun Lijun, presidente do Instituto de Pesquisa da Animação Chinesa da Academia de Cinema de Pequim, foi publicada pelo Commercial Press, já em 1988. Trata-se de uma grande obra com 470 páginas, mas pena é que, a meu ver, ainda existam muitas falhas no livro. Entretanto, felizmente, Joint Publishing (Hong Kong) publicou, em Julho do presente ano, a Animação Chinesa, cujos dados preciosos preenchem a falta de livros desta temática no Interior da China.


Há uma história bastante interessante por detrás da Animação Chinesa. Em bom rigor, trata-se de um livro elaborado por um japonês em colaboração com alguns animadores de Hong Kong. A história remonta ao ano de 1983, quando Kōsei Ono, crítico veterano da animação e da banda desenhada do Japão, visitou pela primeira vez Hong Kong e realizou um encontro com o sector da animação local, recolhendo materiais para uma coluna exclusiva numa revista japonesa de animação. Fui um dos entrevistados e passámos a ser bons amigos depois disso. Em 1984, Kōsei indicou-me a sua vontade de publicar um livro exclusivamente sobre a história do desenvolvimento da animação chinesa, querendo o meu apoio nos contactos e na tradução. Nessa altura, eu já tinha conduzido alguma pesquisa sobre a animação chinesa. Além disso, graças à grande ambição do crítico e ao forte apoio dos animadores de Hong Kong, o plano de publicação foi implementado a uma velocidade vertiginosa, correndo melhor do que a expectativa.


Foram dois os motivos que impulsionaram Kōsei Ono a escrever algo sobre a história da animação chinesa. Por um lado, apreciou muito a peculiaridade artística da animação chinesa na sua fase inicial, pretendendo trazer as obras para os espectadores japoneses através do seu livro. Por outro lado, o desenvolvimento primitivo da animação chinesa dependeu, na verdade, de vários profissionais japoneses de animação, que eram todos bons amigos de Kōsei e estavam dispostos a oferecer-lhe informações, pois ele tinha confiança suficiente no conteúdo do livro.


De 1984 a 1986, Kōsei Ono visitou várias sedes de animação na China, incluindo as de Changchun, Xangai, Cantão e Hong Kong, destacando-se o então Shanghai Animation Film Studio, onde se concentraram os predecessores da animação chinesa. O crítico japonês fez visitas a dezenas de animadores importantes, tais como o “Pai da Animação Chinesa” Wan Laiming, o perito em animação de lavagem de tinta Te Wei, os realizadores Qian Jiajun e Wang Shuchen e o fotógrafo Duan Xiaoxua. Em meados da década de 80, todas estas pessoas estavam ainda vivas e ofereceram, uma após outra, muitas informações valiosas a Kōsei Ono, em sinal de apreciação pela sua persistência. Após mais de três anos de entrevistas e de muitas compilações, com a colaboração de Tadahito Mochinaga e de Aoki Morikawa, entre outros animadores japoneses, a Animação Chinesa foi lançada em 1987 pelo Heibansha Press do Japão, constituindo-se como o primeiro livro do mundo com o tema do desenvolvimento da animação chinesa. Enquanto animador de Hong Kong, já traduzi, nessa altura, o livro para chinês, permitindo que o lessem todos os chineses interessados.


O tempo voou para 2018, quando me apercebi dos defeitos da The History of China’s Animation (1922-2017), publicada no Interior da China, e achei mais necessário traduzir a Animação Chinesa de Kōsei Ono para chinês depois de reler essa obra importante. Tendo obtido o forte apoio da Joint Publishing (Hong Kong) e a autorização do autor Kōsei Ono, comecei, exclusivamente, a reeditar o livro. Traduzi todo o conteúdo do livro, acrescentei notas e aumentei as fotografias, impressas a cores, de 100 para 300. O livro original abrange, apenas, a história de 1920 a 1987, por isso escrevi, posteriormente, até 2017, vários artigos, completando, assim, a história.


Em suma, este livro é recomendável a todos os amigos interessados em animação chinesa e em arte de animação.


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O livro Animação Chinesa no original em Japonês (à esquerda) e a versão chinesa

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A partir da esquerda: o “Deus do Mangá” Osamu Tezuka, Kōsei Ono e Wan Laiming