Ashley Chong

Contabilista de profissão, Ashley faz parte de diversas associações de anime e banda desenhada em Macau. Foi ela que criou, ilustrou e desenhou a tira de banda desenhada do jornal Diário de Macau, no começo da década de 1990. Mais tarde, tornou-se autora de comics e presentemente é editora da MIND², uma revista de banda desenha publicada pela Comics Kingdom. Ashley participa também na organização da Exposição de Animação, Comics e Brinquedos de Macau, um evento organizado pela Macau Animação e Quadrinhos Aliança.

Sobre as Políticas para as Indústrias de Banda Desenhada e Filmes de Animação

16a edição | 08 2016

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Foto cedida por Quinto Fórum Ásia-Pacífico de Ilustração da Associação de Comickers de Macau


É um facto bem conhecido que, por vários motivos, a política de subsídios do governo para organizações da sociedade civil e para projectos de convenções e exposições foi ligeiramente apertada e ajustada durante os últimos dois anos. Os grupos de animé foram naturalmente afectados, e alguns projectos de grande escala receberam subsídios abaixo dos valores solicitados. Certamente, as autoridades têm a sua lógica de pensamento própria, um certo de padrão de comportamento, e estes grupos não podem fazer mais nada a não aceitar.


Olhando para último século, para realizarem os seus sonhos os entusiastas locais de animé usavam dinheiro do seu bolso para imprimir e lançar novas publicações. Apesar de viverem com pouco, desfrutavam. Até há uns anos, a nossa cidade seguiu a política nacional e incluiu o animé nas indústrias culturais e criativas. De repente, tornou-se extremamente popular e desde então tem-se relacionado com o desenvolvimento diversificado da cidade. O governo criou departamentos de gestão dedicados a formular políticas e a direccionar recursos, enquanto a cidade se mantinha ocupada a aproveitar as oportunidades. Todo o tipo de projectos e planos floresceram, e aqueles que foram mais corajosos arriscaram e acreditaram poder beneficiar das condições favoráveis para criar marcas de animé de grande escala que pertencessem a Macau, deixando mais um marco na história do animé de Macau.


Nas regiões vizinhas os governos têm por hábito apoiar a indústria de animé. As pessoas locais desta indústria acreditam que o que o governo precisa é de ajudar os criadores e a qualidade do trabalho, sendo que isso é mais importante do que investir em infra-estruturas como por exemplo um espaço para o animé.


Para o animé de Macau ser industrializado, primeiro é sem dúvida necessário que Macau tenha produtos e trabalhos apresentáveis. Apesar de ter artistas de animé com potencial, a ecologia de Macau de deixar os amadores entregues a si mesmos durante as últimas décadas não pode dar lugar a um estatuto profissional no espaço de dois ou três anos através de políticas e financiamento. Não é difícil para os criadores receber subsídios modestos e combiná-los com algum do seu dinheiro para publicarem separatas, organizarem exposições, fazerem feiras de arte e entreterem os outros e a si mesmos. No entanto, este tipo de escala está principalmente direccionada aos membros da indústria e a clientes directos, e o seu impacto acaba por ser limitado.


Muitas cidades do interior da China têm eventos de animé de grande escala para as suas próprias marcas, abrangendo praticamente o ano inteiro. Independentemente da qualidade, conseguiram pelo menos criar um ímpeto e uma atmosfera, gerando um impacto de longo alcance. Além de serem o paraíso para os fãs de animé, estes eventos também atraem expositores profissionais e estão direccionados para audiências profissionais, integrando informação e oportunidades de negócio. Para Macau, o papel e o significado de organizar estes eventos transregionais de animé com uma certa escala, como fóruns e exposições, é sem dúvida para mais do que poder ser comparado com outras regiões ou para acompanhar o desenvolvimento da indústria de convenções e exposições. Com a rápida transformação e desenvolvimento da sociedade, o animé já não é uns quantos livrinhos de banda desenha e cartoons para crianças. Do ponto de vista artístico e comercial, tem um potencial ilimitado e inúmeras hipóteses de cooperação com outros sectores e indústrias, o que já foi provado em várias ocasiões. Eventos de grande escala atraem atenção, apresentam a situação e as perspectivas das indústrias locais e internacionais, criam uma atmosfera apaixonante e um sentimento de pertença e reconhecimento em todas as partes envolvidas. Criadores, público e leitores podem alargar os seus horizontes através destes eventos, explorar os seus raciocínios, ser inspirados e melhorar os seus níveis de criação e apreciação; não se trata apenas de meras palavras bonitas escritas em formulários para pedido de subsídios, nem de “estragar as coisas com entusiasmo excessivo”. Em vez disso, estes eventos pode ajudar a germinar pequenas sementes. Sendo que cultivar talentos e maturar produtos é algo que leva tempo, porque não colocar simultaneamente esforços na construção de espaços e infra-estruturas?


Em Macau, o animé ou a cultura e criatividade são afinal de contas diferentes daquilo que encontramos noutras indústrias amadurecidas, com organizações comerciais e fundações sólidas, que têm recursos suficientes para participar e organizar exposições, expandir os seus mercados e procurar lucros. Em vez disso, estas indústrias precisam de apoio até um certo ponto num futuro próximo; é irrealista esperar que amadores invistam milhões na organização de eventos de grande escala e que consigam fazer o seu caminho de forma sustentável rumo a um desenvolvimento social diversificado. A mudança de política prejudicou sem dúvida o progresso desta indústria, colocando-a perante um dilema, e quase que desfez todos os esforços anteriores, com tudo a regressar ao começo. Estamos todos dentro da cerca e regressámos temporariamente à nossa anterior zona de conforto. Quanto à industrialização, voltou a ser um conceito, ou mesmo uma incerteza.