Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


Os bons tempos não duram para sempre.

4a edição | 04 2015

“Cultura e criatividade” tornou-se um lema. De facto, tudo começa com a leitura: o teatro, o cinema, a televisão, o design, a pintura ou a música. Ler traz inúmeras vantagens: maior capacidade analítica e de compreensão, estímulo mental e desenvolvimento da empatia e solidariedade. Ler permite-nos relacionar o passado ao presente e ajuda-nos a entender a forma de pensar das outras pessoas. Se a leitura é o ponto de partida para desenvolver a cultura e a criatividade, então em que ponto da nossa vida devemos começar a ler?


Podemos pensar em números para explicar alguns aspectos desta Era Digital. O Inquérito Nacional sobre os Hábitos de Leitura na China de 2013 (na altura em que escrevo os resultados de 2014 ainda não foram publicados) revela que em média os chineses lêem cinco livros por ano. Descubro pontos interessantes nas entrelinhas deste inquérito: em primeiro lugar, os jovens são os que mais lêem na China (jovens com idades até aos 17 anos lêem sete livros por ano); em segundo lugar, o número de leitores adolescentes está a crescer de ano para ano. Em média, as crianças com idades até aos oito anos terminam seis livros por ano, ao passo que os jovens com idades compreendidas entre os nove e os 17 lêem nove obras anualmente (em média, jovens entre os 9 e os 13 anos lêem 8,26 livros por ano, e os jovens entre os 14 e 17 anos terminam 8,97 livros num período de 12 meses).


Acredito que, mesmo em países com uma base cultural completamente diferente, o resultado seja semelhante. Um aluno deixa o ensino básico, começa o ensino secundário e depois ingressa na universidade e, à medida que isso vai acontecendo, começa a ter outra compreensão do mundo e outra curiosidade. A maneira como uma pessoa olha o mundo, os valores que adquire e mesmo as preferências de leitura ganham forma ao longo destes anos de formação. Em termos comparativos, a situação em Macau é preocupante. Não existe um estudo deste género em Macau e, por isso, é muito difícil fazer comparações. Mas um estudo sobre os hábitos de leitura dos alunos do ensino secundário de Macau revela que “mais de 60 por cento dos estudantes praticamente não lêem livros”, “quase 70 por cento dos estudantes não têm hábitos regulares de leitura” e 10 por cento destes alunos não lêem um único livro ao longo do ano. Estes números deixaram-me em choque.


É preocupante que existam pessoas que não lêem ou que lêem pouco. E é bem mais alarmante quando estamos a falar de jovens. A minha próxima pergunta é: como podemos incentivá-los a ler? O inquérito realizado na China revelou que 90 por cento das crianças com idades até aos oito anos e que têm hábitos de leitura recebem apoio dos pais nesse sentido. Estes pais passam uma média de 30 minutos por dia a ler para os seus filhos e em média visitam livrarias quatro vezes por ano. Se é pai, responda a esta questão: quanto tempo passou ao longo do ano a ler com o seu filho? Visitaram juntos alguma livraria? Comprou algum livro ao seu filho?


Se uma criança não vê os pais a ler em casa, poderá ser mais difícil passar a mensagem de que este é um hábito importante. Claro que incentivar a leitura é um esforço colectivo: o governo oferece os locais de leitura e patrocina iniciativas ligadas à escrita e à publicação; as escolas organizam projectos para ajudar as crianças a desenvolver o gosto pelo livro; e as editoras seleccionam boas obras para publicar. Mas, mesmo assim, o lar tem uma influência muito forte e os hábitos de leitura devem começar em casa. Por isso, apelo aos pais de Macau que leiam para os filhos, mesmo que sejam pessoas ocupadas ou que estejam sem disposição para o fazer.