Como Começar Um Negócio na Área Cultural e Criativa?

10 2017 | 23a edição
Texto/Sunny e Jason Che

Como cidade que integra a cultura oriental e a cultura ocidental, Macau tem visto as suas indústrias seguirem uma tendência de diversificação nos últimos anos. Nesse âmbito, o território também serviu de plataforma para o intercâmbio cultural e criativo, além do seu papel como centro mundial de turismo e lazer. Graças à popularização das indústrias culturais e criativas de Macau e à sua promoção em todos os círculos, pioneiros dos sectores culturais e criativos foram sucessivamente envolvidos no desenvolvimento destes sectores a nível local e, claro, há casos de marcas locais bem sucedidas.

 

Para explorar os segredos de um tal sucesso, convidámos três profissionais dos sectores locais de banda desenhada, moda e dança a partilharem as suas opiniões e experiências na gestão de negócios culturais e criativos, dando o exemplo para os interessados em ingressar no meio.

 

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Wu Chi Kit:De pintor a operador para iniciar um novo desafio nas indústrias culturais e criativas

 

Wu Chi Kit (Jet) combina boxe e pintura, áreas que parecem irrelevantes uma para a outra, tendo aplicado o seu estilo de pintura e a sua mente delicada na produção da série de banda desenhada “Boxing”. Após o lançamento, a série vendeu muito bem e ele realizou uma exposição individual, o que o tornou numa figura bem-sucedida no mundo dos negócios culturais e criativos.

 

Jet fez parte da selecção de boxe de Macau. Numa competição internacional, ele percebeu o encanto que o campeão chinês de boxe Zou Shiming tinha no ringue e foi atraído pelo seu talento. Além disso, ficou a saber que havia muitas histórias por detrás do seu sucesso e que as suas conquistas foram feitas após muitas oscilações, o que o impressionou vivamente. Assim, Jet, que gostava de pintar quando era criança, decidiu narrar as histórias positivas de Zou Shiming com o seu traço e criar uma sucessão de interessantes e emotivas bandas desenhadas.

 

A proximidade entre o boxe e a banda desenhada, o desporto e a arte

 

Jet é um homem que faz o que diz e deu o primeiro passo elaborando esboços e gizando um plano. O ditado segundo o qual “as oportunidades são sempre para aqueles que estão bem preparados” continua actual. Logo no primeiro encontro, Jet e Zou sentiram-se como velhos amigos, com o rei do boxe a apreciar o talento e a paciência de Jet. A série “Boxing” nasceu da proximidade entre os dois.

 

Para melhor reproduzir os processos de crescimento e de treino de Zou Shiming, Jet visitou diversas vezes Guizhou, de onde Zou é natural, com vista a obter informações detalhadas. A meticulosidade e a busca da perfeição estabeleceram bases sólidas para a carreira de Jet, permitindo-lhe alcançar resultados distintos. Em 2013 foi lançado o primeiro volume da banda desenhada, preparado ao longo de dois anos, tornando-se muito popular e levando Jet a participar numa sucessão de pequenas e grandes mostras. Posteriormente, este autor foi reconhecido e financiado pelo Fundo das Indústrias Culturais de Macau, o que lhe possibilitou a expansão do negócio. Deste modo, Jet pôde divulgar a continuação da série e teve oportunidade de ser convidado para feiras do livro em diferentes regiões, aí comercializando a sua BD. Com isto, “Boxing” despertou as atenções fora de Macau e deu a conhecer a mais pessoas a arte que se cria no território.

 

Atravessando a maré-baixa para avançar rumo à prosperidade da indústria

 

Recordando os seus últimos sete anos, Jet diz francamente que o início da sua carreira pode ser descrito como uma maré-baixa, não gerando um rendimento considerável para ele, que chegou a ser bastante criticado pelos seus pares. Muitos pintores comprometidos com a arte ou pintores entusiastas geralmente deparam-se com as perguntas: “Qual o propósito da arte?”, "A arte pode gerar dinheiro?", etc. Jet não só se confrontou positivamente com todas as críticas como continuou a usar a sua energia para criar, expondo ao público o seu talento e a sua importância. Felizmente, o valor artístico da banda desenhada sobre o rei do boxe fez com que mais gente o conhecesse e, com o apoio do Fundo das Indústrias Culturais de Macau, surgiram oportunidades para fazer coisas diferentes. Finalmente, ele reagiu com as suas conquistas e fez com que a arte produzida em Macau gerasse lucro.

 

A série narra a conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos por um homem que poucos conheciam mas que praticava boxe continuamente, o que acaba por reflectir o percurso de Jet. A partir do momento em que alguém não desiste facilmente e avança em direcção ao seu objectivo, o seu trajecto deve ser apreciado, não importa se se trata de um campeão mundial ou de um criador local.

 

Artista ousa lutar contra as dificuldades

 

Jet sugeriu a outros artistas que não fossem complacentes e conservadores, ficando-se por praticar o seu talento e nada mais; deviam sair com maior frequência para alargar horizontes. Além disso, e considerando o esforço que a criação artística requer, somente quando se está repleto de força física a criação pode ser eficiente, o talento e a velocidade incrementados e a mente ter oportunidade de se expandir. Quem apenas criar obras de arte sem uma mente aberta e passar 50 anos a elaborar trabalhos de forma lenta em troca de conhecimentos que podiam ser obtidos em apenas 30 anos perto de outros, não só perde uma boa oportunidade e passa ao lado da tendência dominante como ignora o que os outros estão a fazer, acabando, sem dúvida, por se alhear do momento e do mundo. Na era da Internet, a competição não se limita aos extraordinários artistas locais de Macau, inclui também os de outras partes do mundo. Jet acredita que “o artista deve sempre, com uma postura destemida, investir noutras capacidades e ser positivamente confrontado com possibilidades e desafios no desenvolvimento da indústria, além de praticar o seu talento e fazer aquilo que quer”.