Colaboração Cruzada: Macau Creations X Choi Heong Yuen

06 2015 | 6a edição
Texto/Jason Leong e Allison Chan

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Colaboração Cruzada: Macau Creations X Choi Heong Yuen

 

Enquanto a Associação de Música ao Vivo e o Teatro de Lavradores estão localizados em edifícios industriais, a empresa de design Macau Creations teve um trabalho pioneiro em Macau e fundou o Cunha Bazaar na Rua do Cunha, na Taipa. A loja especializada em produtos criativos tornou-se num dos principais estabelecimentos comerciais da área.

 

Wilson Chi Ian Lam, director executivo e criativo da Macau Creations, observa: “A vibrante atmosfera das artes culturais e criativas em Macau é, sem dúvida, um caso sem precedentes”.

 

Após concluir os estudos em design gráfico no Canadá, Lam regressou a Macau em 2006 para estabelecer a Macau Creations. Desde logo, a empresa criou uma parceria de sucesso com a pastelaria Choi Heong Yuen, uma marca conhecida da indústria de lembranças de Macau. A cooperação resultou numa loja de recordações emblemática na Rua do Cunha. Conhecido como Cunha Bazaar, o estabelecimento adoptou uma abordagem cultural e criativa para estabelecer a sua marca e fazer a divulgação dos seus produtos. A Macau Creations colabora com mais de 30 artistas locais em termos de design e de vendas, apresentando produtos da pastelaria Choi Heong Yuen. Graças à criatividade de Lam, duas indústrias que à partida não tinham nada que ver uma com a outra—lembranças e artes criativas—desenvolveram uma parceria com um extraordinário potencial.

 

“Macau é um caso interessante: apesar de ser uma cidade pequena, é uma mescla do antigo e do novo, do Oriente e Ocidente. É certamente um bom lugar para desenvolver talentos nas artes criativas e culturais”. Lam acrescenta: “Macau tem apenas cerca de 500 mil residentes, mas devido à forte indústria do jogo, atrai mais de 30 milhões de visitantes por ano. Desde que os nossos produtos tenham um bom design, não há grande necessidade de nos preocuparmos com a falta de procura. Essa é, em última análise, a razão pela qual eu decidi assenter em Macau”. A confiança na indústria do turismo em Macau fez com que Lam desenvolvesse parcerias com empresas que também trabalham no sector hoteleiro, fazendo dos souvenirs os produtos ideais para trabalhar.

 

“No início não foi fácil. Fomos bater a várias portas, mas não houve praticamente quaisquer respostas. Estávamos a experimentar uma abordagem ligeiramente diferente da forma como tem sido gerida tradicionalmente a indústria das lembranças [em Macau] e, por isso, não eram muitas as lojas que queriam correr este risco.” Ao recordar o período em que estabeleceu o Cunha Bazaar, Lam admite que teve muita sorte em ter recebido o tão necessário apoio do director executivo da pastelaria Choi Heong Yuen, que se mostrou interessado em contribuir para o crescimento das indústrias culturais e criativas em Macau. Foi assim que Lam teve a possibilidade de arrendar dois armazéns à pastelaria, um dos quais foi transformado no Cunha Bazaar. “Perante o nosso êxito recente, estamos contentes por não ter desiludido a pastelaria Choi Heong Yuen.”

 

Depois do seu humilde começo, o Cunha Bazaar já é um dos pontos turísticos mais procurados da cidade. Lam confessa que, apesar da crescente fama, não são muitos os que compram as lembranças, por melhor que seja a sua produção. Lam não foi apanhado de surpresa. “Estamos ainda num período de investimento. Oportunidades futuras de negócio podem esperar”, diz. Lam realça que o Cunha Bazaar é uma plataforma chave para diferentes sectores descobrirem e criarem parcerias com a Macau Creations, que irá, em troca, gerar perspectivas de negócio.

 

“Pessoalmente, mais do que olhar para o Cunha Bazaar como um negócio para fazer dinheiro, olho como uma plataforma para apresentar ao mundo o meu conceito de design. Houve ocasiões em que hotéis locais encomendaram o design da sua marca e do interior dos seus quartos à Macau Creations. O lucro é apenas uma das formas para avaliar o desempenho do negócio. O facto de os meus clientes terem acesso ao meu trabalho através do Cunha Bazaar deve ser visto como uma forma de sucesso. Já quanto ao caminho que deve ser percorrido para transformar a identidade de uma marca num negócio sustentável, esse é um segredo comercial.”

 

Dadas estas condições favoráveis para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas em Macau, por que razão têm estas indústrias crescido a um ritmo tão lento? Lam reconhece que “mesmo com o apoio dado pelo governo ao desenvolvimento dos talentos artísticos, alguns artistas podem ainda perder-se, principalmente como resultado destas condições positivas.”

 

Lam observa que a maioria dos empresários da área criativa ou cultural em Macau tem negócios de pequena dimensão, focando-se sobretudo na produção e venda de artesanato. Mesmo que essas pessoas tenham produtos fora de série, é difícil que a sua marca vingue na indústria sem uma sólida gestão empresarial e noções de administração. Devido ao crescente apoio do governo às artes culturais e criativas, alguns jovens aspiram ser empresários culturais de sucesso, mas não estão dispostos a trabalhar arduamente, estando meramente focados na ideia de ter o seu próprio negócio.

 

“A produção criativa e cultural é um negócio exigente que requer um investimento intenso de esforço, tempo e experiência. É necessário muito tempo para desenvolver empresários com talento criativo e cultural.”

 

Quando questionado sobre se a Macau Creations se candidatou a algum subsídio governamental, Lam admite ter submetido um pedido mas, seja qual for o resultado, o seu plano não vai mudar. “Afinal de contas, as indústrias culturais e criativas são um negócio. Se não formos capazes de conquistar espaço suficiente para fazer crescer o nosso negócio, seremos nós os únicos culpados e mais ninguém.”