Mapear as Zonas Culturais e Criativas de Macau

08 2016 | 16a edição
Texto/Yuki Ieong, Jason Leong e Lei Ka Io

Toda a indústria tem um início. As indústrias culturais e criativas não são excepção. Uma empresa criativa pode começar por ser um pequeno negócio caseiro e depois fundir-se com outras empresas semelhantes e criar uma “zona cultural e criativa”. Obviamente, o ideal é que numa tal zona as empresas possam partilhar recursos ao mesmo tempo que mantêm as suas características próprias, podendo a zona cultural em si evoluir para um centro turístico, trazendo mais oportunidades económicas à região.

 

Nos últimos anos, Macau desenvolveu várias “zonas culturais e criativas”, criadas tanto com financiamento público como privado. Nesta edição, visitámos vários desses locais, e entrevistámos os proprietários, bem como os operadores, de modo a apresentar aos nossos leitores e potenciais utilizadores as características destas zonas, analisando os seus prós e contras.


Equilibrar a Monitorização de Fundos Públicos com o Sucesso Industrial   Parque Cultural e Criativo 678: Evitando o Genérico

Investir nos Negócios Culturais: o Valor de Correr Riscos   Novidades:Village Mall no Coração da Cidade

Caso de Estudo——D2 Place, Hong Kong-Uma Experiência de Compras Diversificada   Uma Comparação dos Pólos Culturais de Macau

 

Centro de Design de Macau: Posicionamento Claro para Facilitar o Empreendedorismo

 

Criada há cinco anos, a Craxh Multimedia Production mudou-se para o Centro de Design de Macau no final de 2014. O seu director executivo e criativo, Wallace Chan, conta que no início começaram como uma start-up e foram mudando de instalações várias vezes, devido a problemas com rendas elevadas e ruído excessivo no ambiente de trabalho, até se instalarem no Centro de Design.

 

Chan considera que a renda no Centro de Design está dentro do orçamento da empresa, mesmo sabendo que, durante o período de arrendamento de três anos, haverá um aumento anual marginal. O espaço de escritório de uma empresa multimédia é usado sobretudo para criar um ambiente aberto e confortável para os funcionários, bem como para armazenar o equipamento de filmagem. Ao contrário de outras empresas, não são necessárias salas de exposição nem salas de conferências.

 

“O serviço mais atractivo que há aqui é o wi-fi gratuito. Como temos de fazer upload de uma quantidade considerável de videoclipes para uma base de dados e gerir websites, a velocidade da internet torna-se muito importante. Além do mais, a gestão do edifício 24 horas por dia por parte do Centro de Design permite uma conveniência adicional para a equipa de produção, que tem horários de trabalho irregulares.”

 

Convergências e Trocas

 

O mais complicado acerca do funcionamento no Centro de Design é que o nome não é familiar para muitas pessoas, o que leva os designers a terem de, frequentemente, dar instruções detalhadas aos clientes para os ajudar a dar com o sítio. No entanto, Chan compreende a situação. “Como o Centro foi fundado recentemente, é natural que muitas pessoas ainda não saibam onde fica. Não é algo que nos preocupe muito, sobretudo porque não recebemos assim tantas visitas externas.”

 

Hugo Chang, o parceiro de negócios de Chan e director de design, explicou que a gestão do Centro também desafia os inquilinos a colaborarem entre si. Chan disse que têm colaborado com alguns dos outros inquilinos em projectos específicos: “Se não fôssemos inquilinos do Centro de Design, e como não participamos muitas vezes em actividades de tipo empresarial, seria menos fácil estarmos ligados a outros parceiros. Esta é uma das vantagens claras de assumir a nossa presença num centro cultural.”

 

A Renda é Só Um de Muitos Critérios

 

Apesar de mais de metade dos inquilinos actuais serem designers experientes, Chan esclarece que isso não significa que as start-ups não sejam adequadas para o local.

 

“Obviamente, uma renda baixa é sempre desejável. Contudo, o facto de um negócio ter ou não sucesso nem sempre depende da dimensão do espaço cultural. Se um designer não for intrinsecamente apelativo, não terá sucesso no negócio, mesmo que não pague qualquer renda.”

 

Chan começou a procurar um escritório há dois anos. Nessa altura, encontrou vários centros culturais adequados, incluindo o Parque Cultural e Criativo 678 e o Centro de Design, e ambos lhe pareceram boas hipóteses. Então, comparou a popularidade e o posicionamento de mercado dos dois locais e chegou à conclusão de que, para o seu caso, o Centro de Design tinha um posicionamento de mercado e um estilo mais apelativos.

 

Embora o período de arrendamento no 678 seja mais longo, sinto que o Centro de Design oferece mais no que diz respeito à convergência no sector do design, e promove uma atmosfera criativa, de modo a que cada inquilino consiga ter o seu próprio espaço.”

 

O Mérito de um Gestão de Edifício Relevante no Sector

 

Actualmente, as zonas culturais locais têm os seus próprios modos de gestão mas, como salientou Chan, uma gestão de edifício relevante para o sector pode ser mais sensível às necessidades de uma empresa. Se o centro for gerido por um “outsider”, o projecto torna-se apenas um projecto de imobiliário.

 

“Alguns ateliers estão equipados com serviço de atendimento de chamadas, secretariado, etc., que é algo que apenas as empresas mais comerciais precisam. Parece que o gestor do edifício é um ‘outsider’ que pouco sabe do que seria necessário num espaço cultural.” Recentemente, alguns centros culturais lançaram uma nova forma de funcionamento, em que os inquilinos podem oferecer serviços ou competências em troca do pagamento da renda. No entanto, Chan considera isso confuso: “Como os produtos de design não são facilmente quantificáveis, não é fácil traduzir o valor objectivo destes produtos.”

 

Chan disse que, mesmo antes do lançamento do Fundo das Indústrias Culturais, houve algumas empresas que criaram centros culturais, mesmo não fazendo parte do sector. Para ele, estes negócios tendem a ter apenas em vista o lucro, em nome da promoção das indústrias culturais e criativas. Desde que o Fundo das Indústrias Culturais foi criado, pessoas que são apaixonadas pela ideia de criar centros culturais começaram a revelar-se. No entanto, algumas delas sabem muito pouco sobre as necessidades de gestão de um polo criativo e os resultados acabam por estar longe de ser satisfatórios. Além disso, as infraestruturas desses centros não vão ao encontro das necessidades dos utilizadores. Chan duvida se governo terá sido capaz de aferir o potencial das candidaturas, de modo a canalizar os fundos para apoiar os operadores mais capazes.