Nascida em Macau, atualmente a viver em Nova Iorque. Dedica-se a exposições independentes, à escrita e ao trabalho em educação artística. Em 2019, foi curadora da Exposição Internacional La Biennale Di Veneza, inserida nos Eventos Colaterais de Macau, China. Trabalhou no Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova Iorque, no Museu dos Chineses na América e no Instituto Cultural do Governo da RAEM. É licenciada pela Universidade de Pequim em Língua Chinesa e Artes, e mestre em Administração de Artes pela Universidade de Nova Iorque.
Nos últimos anos, Macau parece estar mais atenta à arte pública, nomeadamente aquando da polémica causada pela Grande Cabeça de Buda, uma obra da autoria de um artista estrangeiro na primeira edição da “Arte Macau”; ou quando se levantou a questão da conservação do mural do Hotel Estoril; ou quando uma operadora de jogo encomenda a um artista a criação de uma obra de arte num espaço público de um hotel; ou ainda quando são organizados festivais artísticos que usam a cidade como pano de fundo, como festivais de luz, exposições de arquitectura, etc. Estas mudanças revelam, em certa medida, que a arte local tem vindo, cada vez mais, a aproximar-se do público.
A arte pública pode ser definida de muitas maneiras, mas não sem recorrer à palavra “pública”. Tradicionalmente, a arte pública corresponde à arte patente em espaços públicos, de modo a ser vista. Por vezes, é coleccionada por instituições; por vezes, é criada por encomenda. Algumas obras são criadas de acordo com o espaço onde se encontram; outras são criadas em comemoração de acontecimentos, momentos e figuras históricos específicos, para efeitos de exibição permanente. Precisamente por este motivo, a arte pública não deixa de se afigurar demasiado solene e antiquada.
Na era contemporânea, a definição de arte pública sofreu, desde cedo, uma grande transformação. A organização sem fins lucrativos britânica Situations editou um folheto intitulado The New Rules of Public Art (“As Novas Regras da Arte Pública”) (https://www.situations.org.uk/resources/new-rules-of-public-art/), com uma lista de dez novas regras para quebrar os estereótipos sobre a arte pública, por exemplo: a arte pública não tem de parecer arte pública; a arte pública não é para sempre; em vez de se criar arte pública para uma comunidade, também se pode criar uma comunidade através da arte pública; não se deve embelezar um espaço, mas sim interrompê-lo... Desta forma, talvez não seja a arte pública que está obsoleta, mas sim a nossa concepção dela.
A maioria das obras de arte pública conhecidas no espaço urbano de Macau ainda são obras relativamente tradicionais, tendo sido, maioritariamente, encomendadas pelo Governo, bem como por universidades, hospitais, parques, associações de beneficência, aeroportos e hotéis. As obras integradas em colecções incluem sobretudo pinturas e esculturas, sendo as obras encomendadas, geralmente, esculturas e murais. Se quisermos fazer uma distinção temporal na história da arte pública em Macau, podemos usar como ponto de referência a Transferência de Macau e distinguir entre o antes e o depois da mesma. Por um lado, com a mudança da identidade da cidade de Macau, a arte pública assumiu o papel de monumento comemorativo ou de marca de uma nova imagem da cidade; por outro lado, um grande número de novas instalações públicas deu também origem a uma maior procura de obras de arte pública. No entanto, após a Transferência, as obras de arte pública de grande dimensão encomendadas têm vindo a perder qualidade, o que talvez seja indicativo da estagnação deste género artístico, ou então um sinal de que este está a evoluir para uma nova etapa.
Com os novos tempos vieram novos conceitos estéticos. A arte pública que surgiu nos espaços urbanos de Macau antes e depois da Transferência tem vindo a perder o seu esplendor. Mas é também a falta de promoção, educação e manutenção que leva as pessoas a negligenciar a importância estética e social destas obras. A história da arte pública da cidade antes e depois da Transferência corresponde, na verdade, à história do desenvolvimento da arte moderna em Macau. Lembro-me que, em criança, havia uma obra vanguardista de técnica mista na escadaria da Biblioteca Central de Macau na Praça do Tap Siac e só mais tarde é que descobri que era uma obra-prima da arte moderna de Macau. Para dar outro exemplo, nos espaços verdes e piscinas que se encontram entre a Praça do Centro Cultural de Macau e o Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, há um conjunto de esculturas em mármore em forma de um barco e de vários cavaleiros, supostamente inspirado no exército de terracota de Xi’an, da autoria do escultor português João Cutileiro, o qual chegou a ser director da Academia de Artes Visuais de Macau. No entanto, dada a sua localização fora das zonas residenciais de Macau, muitos locais desconhecem a obra.
Independentemente da sua origem, a arte pública criada em diferentes períodos reflecte muitas vezes a estética e a história da respectiva época. A arte pública que tem sido conservada ao longo do tempo tornou-se um espelho que nos ajuda a compreender-nos a nós próprios e à vida local, constituindo uma parte importante do tecido urbano. Existem ainda muitas obras de arte pública esquecidas na cidade de Macau que merecem ser discutidas e “vistas” com um novo olhar.
Futurefarmers, Flatbread Society, Oslo, 2013. Fotografia: Max McClure (O projeto do The New Rules of Public Art, mais informações: https://www.situations.org.uk/projects/slow-space-2010-2014/futurefarmers-loseter-flatbread-society)
O Sistema BC, Bristol, 2013. Fotografia: Georgina Bolton (O projeto do The New Rules of Public Art, mais informações: https://www.situations.org.uk/projects/bc-system-new-works-forever-2013)
Alex Hartley, Nowhereisland, Mevagissey, 2012. Fotografia: Max McClure (O projeto do The New Rules of Public Art, mais informações: https://www.situations.org.uk/projects/alex-hartley-nowhereisland)