Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


Criatividade e Política

22a edição | 08 2017

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Macau vai ter eleições este ano. As eleições para a Assembleia Legislativa, que ocorrem a cada quatro anos, são a altura em que os diferentes grupos políticos recorrem a todos os meios para angariar votos. A maioria de nós talvez pense que criatividade e política não estão relacionadas. Sendo assim, como poderão caminhar paralelamente? Porém, elas não só se inter-influenciam como a política é uma fonte de inspiração para a criatividade e acrescenta valor à indústria criativa.


Há não muito tempo, o drama televisivo anti-corrupção In The Name of People foi um verdadeiro sucesso no interior da China. De acordo com as estatísticas, o último episódio desta série subordinada a jogos de poder teve as audiências mais elevadas dos últimos dez anos entre as produções chinesas do género. Os direitos de transmissão para a televisão por satélite foram adquiridos por 200 milhões de yuan, tendo sido vendidos milhões de exemplares do romance que deu origem à série. O audiolivro registou 20 milhões de downloads por mês e o e-book teve mais de 500 milhões de cliques mensais. Outras indústrias lucraram com este sucesso. Por exemplo, locais onde a série foi filmada tornaram-se incrivelmente populares. A par da exibição do drama, sítios como Nanjing e Tianmu Lake passaram a atrair legiões de turistas. Segundo as estatísticas, os pacotes de férias que incluem Nanjing vendem mais 30% do que antes. Isto prova que uma produção televisiva de cariz político pode trazer benefícios a diferentes partes das indústrias criativas.


Do outro lado do mundo, nos Estados Unidos, a Netflix lançou recentemente a quinta temporada da House of Cards. Adaptada do romance de Michael Dobbs e do drama britânico homónimo da BBC, esta série televisiva mostra como o congressista democrata Francis Underwood chega a presidente dos Estados Unidos por meios nem sempre legítimos. Esta produção fez da Netflix a empresa de vídeo mais lucrativa do mundo. Em 2013, quando a primeira temporada foi para o ar, o número de utilizadores superou os três milhões e a receita obtida foi de mil milhões de dólares. Além disso, em Harford County, Maryland, onde as duas primeiras temporadas da série foram filmadas, foram criados cerca de 6.000 novos postos de trabalho, tendo sido gerados mais de 250 milhões de dólares.


Num mundo altamente globalizado, diferentes países e regiões estão hoje estreitamente ligados. As questões políticas de um Estado já não são apenas matéria interna. Por exemplo, as eleições presidenciais nos Estados Unidos atraíram a atenção de pessoas em todo o mundo, e tornaram-se assunto para as indústrias criativas. As questões políticas transformaram-se numa fonte de criatividade. Daí que In the Name of People tenha sido tão popular e lucrativo no interior da China e que House of Cards tenha captado atenção transnacionalmente e promovido o desenvolvimento das indústrias televisiva, cinematográfica, editorial, musical, da moda e de design de produtos.


Embora Macau ainda tenha um longo caminho a percorrer no que respeita a transformar questões políticas como as eleições legislativas num poderoso filme ou produção televisiva, podemos ver que a política está a ser uma fonte de inspiração para as indústrias criativas. Nas recentes eleições em Macau, notei que todos os partidos políticos foram, gradualmente, prestando atenção à construção da imagem e à marca, que são exactamente o forte dos profissionais criativos. Do design da identidade corporativa ao vídeo promocional, passando pela publicidade, o hino de campanha e uma diversidade de mensagens e produtos propagandísticos, tudo são bons exemplos de como a política casa com a criatividade. A expressão “economia eleitoral” explica que as eleições podem fortalecer o desenvolvimento das indústrias criativas e aumentar as oportunidades de emprego. Mas eu acredito que, além de procurar o crescimento económico, o casamento da política e da criatividade deve levar a mudanças mais profundas e significativas.


Liberdade e independência são altamente valorizadas nas indústrias criativas, que também colocam ênfase na comunicação e na conexão com diferentes pessoas. Como tal, até certo ponto, a criatividade pode chamar a atenção do público para a política. Quer seja um profissional criativo ou um homem comum, não mais sentirá que as questões políticas não lhe dizem respeito ou não podem ser discutidas. Pelo contrário, podem ser visíveis, tangíveis e debatidas. E isso é muito útil quando se trata do crescimento e desenvolvimento da sociedade civil a longo prazo.