Leong Sin U

Nascida em Macau, Leong Sin U frequentou a Universidade Baptista de Hong Kong e completou o Mestrado em Artes Visuais (Artes e Cultura) em 2014. Integrou o corpo de críticos da edição de 2012 e 2013 do Festival Fringe de Taipé, do Festival Popular Fringe de Hong Kong e ainda do Festival de Artes de Macau e do Festival Fringe da Cidade de Macau.

De artista a crítica de arte

5a edição | 05 2015

Não há muito tempo cruzei-me com uma amiga que fez adereços para um grupo de teatro de Macau. Perguntou-me se tinha visto uma determinada peça de teatro local e disse-me que ainda não tinha ouvido quaisquer comentários ao espectáculo. Havia um estranho silêncio à volta daquela peça.


A palavra “silêncio” deixou-me a pensar – um grupo de teatro que quer evoluir precisa de feedback. Em qualquer sector amadurecido, os críticos são indispensáveis, e esta é uma actividade que se pode tornar numa profissão. Além de comentarem trabalhos artísticos, os críticos podem ajudar a aumentar a visibilidade e o debate à volta dessas obras. Macau tem espectáculos de escala e periodicidade limitadas e, por isso, as críticas não levarão necessariamente a melhores resultados de bilheteira. Grande parte das críticas de arte sublinha apenas o talento artístico, os críticos são amadores e, por vezes, desempenham múltiplas funções.


A criação artística e a crítica de arte partem de diferentes pontos de vista. Nos quatro anos em que estive envolvida no programa de crítica de teatro de Macau, participei em workshops organizados na cidade e para os quais eram convidados críticos de outras regiões onde também se fala chinês. Participei também em eventos em Hong Kong, Taiwan e Macau, que me ajudaram a perceber melhor o estado da crítica de arte em diferentes regiões e o meu próprio papel nesta área. Como estou criadora de literatura e de artes visuais, tinha pouco conhecimento sobre o mundo do teatro, mas percebi os desafios enfrentados por quem está ligado às industrias criativas. Assisti aos ensaios e aos espectáculos da Comuna de Pedra e fiquei profundamente tocada com toda a sua dedicação. No entanto, tive de saber encarar a minha outra identidade – a de uma comentadora solitária que tem de escrever objectivamente sobre um espectáculo. Tenho de assumir a responsabilidade pelos comentários que faço e eu própria também enfrento críticas. Mas para analisar uma obra de arte e impulsionar o desenvolvimento da cena artística, é importante fomentar a discussão através de diferentes pontos de vista.


Se os organizadores reconhecerem a importância da crítica de arte, esta pode até tornar-se num elemento promotor das obras. Apesar de a crítica de arte estar também presente em eventos oficiais como o Festival de Artes de Macau ou o Festival Fringe da Cidade de Macau, as actualizações online dos comentários e as promoções são feitas por agências externas. A devoção e a taxa de actualização das entidades oficiais não são satisfatórias. Neste aspecto, o Festival Fringe de Taipé pode ser uma boa referência. Participei neste evento como comentadora externa em 2012 e 2013. Foi criada uma secção de crítica no website do festival e os comentadores tinham de submeter as avaliações e as pontuações nas 24 horas após o espectáculo. Depois, a organização publicava estes comentários online. Mesmo quando recebiam as avaliações às nove da noite, os funcionários do festival tinham sempre uma resposta amigável. Assim, um dia depois do espectáculo os interessados já podiam ficar a conhecer as pontuações e os comentários atribuídos aos autores e às actuações.


Dos eventos de crítica de arte que são organizados, pode observar- se uma intensa participação de jovens comentadores, mas isso não quer dizer que a qualidade e a quantidade das suas avaliações estejam garantidas, uma vez que estes jovens estão ocupados com a sua própria profissão. Pessoalmente, entendo a importância da crítica, mas por vezes a minha participação é afectada por criações ou projectos que desenvolvo paralelamente. Além disso, os comentadores trabalham muitas vezes como organizadores ou autores de eventos, o que faz com que seja difícil manter a independência. Esta é a situação enfrentada pelos organizadores, caso queiram que os seus programas continuem: por um lado, precisam que os comentadores acumulem experiência e, por outro, precisam de sangue novo na indústria. O círculo artístico também tem dar resposta e coordenar. É necessário dar mais atenção a este tipo de relação interactiva.