Ho Ka Cheng

Supervisor da Associação Audio- Visual CUT, Ho é um dos realizadores do projecto Macau Stories 1 e esteve também envolvido no Macau Stories 2 – Love in the City e no Macau Stories 3 – City Maze. Macau Stories 2 – Love in the City recebeu uma menção especial no festival português de cinema Avanca e foi mostrado nos festivais de Tóquio e Osaka.

Criar uma indústria de cinema local sustentável

19a edição | 02 2017

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A primeira edição do IFFAM  Foto cedida pelo Direcção dos Serviços de Turismo do Governo da RAEM


Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios•Macau (IFFAM, na sigla inglesa) foi lançado no ano passado. Apesar de o director do festival, Marco Müller, se ter demitido do cargo, o festival trouxe ainda assim várias dezenas de visionamentos exclusivos de filmes que irão ser lançados futuramente em Macau.


No início de 2017, vamos ver o que se passou em Macau: em 2007, o Centro Cultural de Macau, gerido pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), começou a promover documentários e curtas-metragens; em 2013, o Instituto Cultural lançou o Programa de Apoio à Produção Cinematográfica de Longas-Metragens; em 2014, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau fundou a Academia de Artes Cinematográficas de Macau e, em 2016, foi lançado o primeiro doutoramento em Gestão de Indústria Cinematográfica; em 2015, o Instituto Cultural levou a cabo um “Inquérito sobre situação do cinema e vídeo e indústrias relacionadas em Macau”, com o objectivo de estabelecer linhas orientadoras para a indústria cinematográfica; nos últimos anos, o Instituto Cultural tem organizado feiras de investimento em filmes e simplificado o procedimento de candidatura para a produção cinematográfica; em 2016, o Direcção dos Serviços de Turismo do Governo da RAEM lançou o IFFAM, fazendo com que o cinema se tornasse num dos temas dos eventos festivos da cidade. Além disso, Macau também participou no Hong Kong International Film & TV Market e teve um stand no Le Marché du Film, no Festival de Cinema de Cannes. Tudo isto indica que a indústria cinematográfica de Macau está mais organizada do que antes. É agora mais estruturada e começa a saber para onde ir.


Agora, o Centro Cultural está sob a alçada do Instituto Cultural. Espera-se que a ligação entre curtas e longas-metragens, bem como o desenvolvimento de ambas, possam ter melhores recursos e gestão. Isto cria um percurso de carreira mais claro para os agentes criativos, e é também o modelo adoptado em vários países. Por exemplo, a Alemanha produz milhares de curtas-metragens por ano. Muitos realizadores, actores e membros das equipas técnicas das curtas-metragens são convidados para trabalhar na esfera das longas-metragens. A parte mais difícil da produção de longas-metragens é o financiamento. O doutoramento em Gestão na Indústria Cinematográfica na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau pode cultivar talentos nesta área. O programa doutoral aborda temas como o marketing, o financiamento, a gestão de recursos humanos e o investimento cinematográfico. Por outro lado, a Feira de Investimento na Produção Cinematográfica entre Guangdong-Hong Kong-Macau pretende explorar novas oportunidades de financiamento, com o delta do Rio das Pérolas a integrar e introduzir os filmes de Macau no mercado da província de Guangdong. Afinal, Guangdong é uma das províncias do interior da China com maiores audiências de cinema. Ao introduzir filmes locais em Guangdong, os artistas em Macau terão mais oportunidades em progredir na carreira. Apesar de Macau não ter, de momento, grandes quantidades de filmes para vender para Guangdong, a feira de investimento permite que os cineastas locais participem e compreendam os pormenores do financiamento. Os workshops de formação organizados pela iniciativa de Promoção de Projectos de Filmes dos Golden Horse Awards, em Taiwan, também podem ser uma boa referência. Cineastas veteranos são convidados a comentar as propostas, o que permite que os agentes criativos tenham mais tempo para se prepararem antes da apresentação, além de também poderem aprender como comercializar as suas próprias obras.


O “Inquérito sobre a situação do cinema e vídeo e indústrias” é importante para encontrar linhas orientadoras para a indústria cinematográfica, definindo e construindo o âmbito da indústria e o funcionamento e o ciclo da cadeia de valor durante o processo de concepção, produção, comunicação e apresentação. Estas linhas orientadoras vão tornar-se bases objectivas e sólidas para agentes criativos, investigadores e decisores políticos, com vista a um desenvolvimento contínuo e sustentável da indústria cinematográfica local. Para tornar o inquérito verdadeiramente útil à indústria do cinema, o rigor da recolha de dados e a transparência da informação são essenciais. Por exemplo, Taiwan aprovou a “Lei do Cinema” em Junho de 2015. Esta estipula que as empresas que gerem salas de cinema têm de ter sistemas de bilheteira informatizados. Dados de bilheteira completos, rigorosos e transparentes serão muito úteis às produtoras de cinema de Taiwan, bem como às agências de marketing e aos investidores que queiram compreender melhor o que está a acontecer no mercado.


A função de realizador é a mais cobiçada na indústria do cinema. Mas de nada serve que a indústria se foque apenas em formar realizadores e ignorar a restante equipa técnica. Se esses profissionais não existirem não há indústria de todo. E esta indústria precisa de ser saudável, contínua e diversificada, pois só assim os criativos terão a plataforma perfeita para mostrar o seu talento.