Rachel Mok

Natural de Hong Kong, Rachel apaixonou-se pelos Tat Ming Pair e pelo Britpop durante a escola secundária e, desde essa altura, desenvolveu um interesse profundo pela cultura pop. Depois de concluir os estudos na Escola de Jornalismo da Universidade Baptista, começou a escrever para várias publicações em inglês e chinês de Hong Kong. Rachel é actualmente editora executiva da plataforma de música online Bitetone e directora de eventos da Cuetone. Adora viajar, batatas fritas picantes e cor de laranja. Odeia esperar pelo autocarro.


Por que devemos ouvir música indie de Hong Kong?

9a edição | 09 2015

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Por que razão deve alguém ouvir música indie de Hong Kong? Nos últimos tempos, eu e o meu sócio da Bitetone, Edwin Lo, temos pensado muito sobre este assunto. Sim, se estamos a falar de música, gravações e qualidade de produção, se temos de pagar o mesmo preço, então por que não compramos um CD de um grupo internacionalmente conhecido em vez de um álbum de uma banda local de música indie? Esta não é decididamente uma questão económica. Mas os humanos não são animais racionais. Se os adeptos de futebol apoiassem apenas a equipa mais forte, então só precisariam de ver semanalmente o Bayern de Munique. Isso seria muito aborrecido. As equipas locais de futebol existem para satisfazer as necessidades emocionais das pessoas—é uma espécie de vínculo. Da mesma forma que quando ouvimos música local estamos a “ouvir” as crenças e as ideias que estão por trás dela. Os músicos indie representam, em grande medida, uma espécie de modo de vida; ouvi-los é como fazer parte dessa ideologia. Eles valorizam a forma como os jovens músicos desta cidade se expressam, mesmo que a música que façam não seja necessariamente da melhor qualidade. Mas é uma forma de captar um determinado tempo e espaço.


Não há dúvida que nos últimos tempos estão a entrar em cena cada vez mais grupos de música, concertos indie, editoras discográficas e aplicações digitais, grandes e pequenas. Mas há mais pessoas a ouvir música indie? Sim. É o suficiente? Nunca será o suficiente. Na minha opinião, o grande problema actual do universo da música indie de Hong Kong é que os grupos não têm uma visão a longo prazo. Eles podem ficar satisfeitos com a festa de lançamento do seu primeiro álbum, mas os discos ficam amontoados no estúdio sem quaisquer planos de marketing ou de vendas, e a sua fama praticamente morta. Isto acaba por ser uma desilusão tanto para os fãs como para os promotores que gostam da sua música. Depois do tempo e energia gastos a promover a banda, tudo fica seriamente comprometido. Não é um desperdício de trabalho?


Costumava acreditar que todos os grupos de música eram merecedores do meu apoio. Mas hoje já não penso que isso seja possível. Posso dar-lhes o máximo de apoio moral, mas em termos de dinheiro, tempo e esforço, tanto os fãs como os promotores precisam de ser selectivos na música que ouvem e que promovem. A qualidade musical é obviamente importante—tal como diz Anthony Wong, se mexer com o teu coração ou te fizer mexer os pés, então esse é o tipo de música que vale a pena ouvir. Eu sou do género mais antiquado: dou valor aos músicos com energia, ambição e coragem para experimentar coisas novas.


Kevin Kaho Tsui, que estudou no Reino Unido e regressou recentemente a Hong Kong para prosseguir a sua carreira musical, é uma pessoa que admiro muito. O artista de música indie pop investe muito do seu tempo e esforço na produção musical, design das capas, filmagem de telediscos, promoção e assim por diante, com resultados muito positivos—um verdadeiro sinal da importância que atribui ao detalhe e ao empenho. Ele também está disposto a ouvir as sugestões dos outros. Desde o seu mini álbum Party, Love & Dreams até ao trabalho Dear Florence, é possível perceber o quanto este artista amadureceu musicalmente. O seu novo álbum Harajuku foi buscar inspiração aos vídeos de música japonesa e é uma colaboração com Soni, o guitarrista da banda local math folk, GDJYB. Tsui junta à sua característica e alegre sonoridade indie pop alguns sons agudos de guitarra, inspirados na música japonesa. Desde Lan Kwai Fong, passando por Tai Po, até Harajuku, espero que o Kevin possa um dia vir a actuar no seu lugar favorito: Manchester!